21 de abril de 2015

A METAMORFOSE DO DINHEIRO - parte IV

Com o aparecimento da Internet, talvez possamos dizer que talvez estejamos às portas de uma QUARTA GRANDE RUTURA (se é que já não entramos por ela), começando especificamente com o Web 2.0, a segunda geração da Internet, aquela que permite a todo e qualquer um carregar as suas própria informações ou os seus próprios produtos na rede.  

A segunda geração da Internet modificou grandemente a sociedade, mas o que a Internet trouxe de novo em termo de dinheiro são os bitcoins, há empresas que contratam pessoas (ou escravizam) para jogarem na Internet a fim de converter essas moedas eletrónicas em digitais, por exemplo numa consulta feita no dia 07/04/15 (http://br.investing.com/currencies/btc-usd-converter) um Bitcoin (1 BTC) valia 249, 19 USD, ou seja é uma moeda com muita confiança. Estamos a passar da moeda-eletrónica para a moeda-digital. E os grandes mercados (bancos e multinacionais) estão a mudar de novo as suas práticas comerciais, considerando a grande vantagem que já obtiveram em relação a policiamento que os governos faziam, tornando-se cada vez mais a serem eles a governar. Porém a história tratará de estabelecer as balizas, não eu. Entretanto, antes do estabelecer da moeda-digital, a moeda-eletrónica vai óbvia e naturalmente tornar obsoleto a moeda-papel, como já tornou em grandes transações, o que vai levar ao melhor controlo dos bancos do que fazemos com o nosso dinheiro e podem até criar mais taxas especiais, porque uma vez que não poderemos fazer transações diretas com dinheiro físico sem passar pelo seu sistema, vamos precisar ainda mais deles e vão abusar de nós com taxas e restrições.


O desenvolvimento deste texto até aqui é um tanto parcial, na medida em que aparentemente me foquei mais no lado negativo da questão do dinheiro, porém, é necessário esta abordagem para o tema a que o blog se propõe (afinal no que está bom não se deve tocar, senão para melhorar, no mau é que se trabalha). É inegável que com cada uma destas ruturas houve mudanças sociais significativas para o bem, a arquitetura, a medicina, o ensino e as demais áreas beneficiaram muito com essas modificações que aconteceram. Porém, o que quero aqui apontar é a evolução de um grupo de humanoides que viviam em comunidades, protegiam-se e trabalhavam para um bem comum, para a nossa sociedade atual totalmente individualista, hedonista e egoísta, onde o acumular é a atitude mais louvável. Não é raro vermos serem apontados como pessoas mais influentes do planeta os homens mais ricos, e por que não?, afinal são eles que decidem o rumo das coisas. Vejamos o exemplo dos antigos heróis mitológicos, eram pessoas que faziam coisas extraordinárias, hoje os nossos heróis são pessoas que ganham muito dinheiro. Nenhum dos nossos talentos tem hoje qualquer valor se não rende dinheiro. Por exemplo, há bons pintores nos passeios à frente do Mosteiros dos Jerónimos a ganharem moedinhas de turistas admirados, mas nunca serão reconhecidos, apesar de muitas vezes terem bons quadros dignos de uma galeria de topo. E quando são chamados de artistas, são artistas menores, porque não vendem por somas elevadas os seus trabalhos.
  
A capacidade de gerar dinheiro é que determina o estado das coisas hoje, mesmo as religiões – que publicitam o plano espiritual – estão mais orientadas a fazer dinheiro, pois quanto mais têm mais conhecidas são, mais publicidade fazem e mais adeptos atraem, vou apontar a fenómenos recentes como a IURD, a Cientologia, ou a Igreja Zumbi, esta última se aproveita da Internet e do descontentamento das pessoas contra o estado para criar mais adeptos e ganhar a isenção fiscal destinada a organizações religiosas, mas daqui a duas gerações terá crentes fervorosos.

Hoje tudo é um produto, as pessoas, a fé, o gosto, as ideias, o talento, a vida, assim como a morte, e o valor desses produtos está na sua capacidade de gerar dinheiro, aliás, acumular dinheiro, porque a maior parte do dinheiro que as pessoas geram é para encher os bolsos de outrem. Não conseguimos viver sem pagar a outros, e não é o nosso trabalho que paga, visto que trabalhamos só para uns poucos se enriquecerem. Temos de pagar pela água, pela comida, pelo teto, pelo entretenimento, pela informação entre outras, e nossa vida é determinada não pela nossa capacidade de trabalhar mas pela capacidade de pagar.

Há pessoas a trabalharem dezasseis horas por dia e ganharem ridiculamente mal, levando-nos a perguntar: afinal onde está recompensa na promessa feita aos trabalhadores? Onde está a verdade na frase: “O trabalho dignifica!”, se a essas pessoas ninguém dá valor? E as outras que dirigem instituições importantes (mas que nunca sabem o que lá acontece - este, este e este e mais este) são tratadas com deferência tanto pelos políticos como pelos juízes mesmo quando roubam uma dessas instituições, continuando a ser sentadas à cabeça das mesas. Onde se encontra a dignidade, então? Decerto não no trabalho, mas no valor acumulado. 
  
O Preço da Diginidade - Henrique Monteiro
A física mede o trabalho em termos da energia e da força, mas a economia mede o trabalho em termos de salário e do dinheiro gerado, e quando falamos do trabalho na sociedade moderna referimo-nos à sua relação com o dinheiro, ou seja no seu conceito económico. Um grupo de voluntários que limpam a rua, porque não geram receita para si não são considerados trabalhadores, portanto não são dignos, mas um grupo de mandriões a discutir num programa na televisão sobre as cores das meias do Cristiano Ronaldo já são dignos porque ganham muito dinheiro com isso, são “trabalhadores”. No entanto, os dignos, ou melhor, os trabalhadores de verdade, são tratados com lixo e cidadãos de terceira, sendo atiradas para o meio da rua quando faltam ao pagamento da prestação da casa, enquanto os CEO de grandes empresas directores de instituições públicas que, como já tinha dito, depois vêm ao público dizer que não sabiam o que se passava na organização que dirigem (outro, outro e outro e  mais outro) quando acontece algum escândalo, são beneficiados e são tratados com deferência e luvas de pelica não pela dignidade de serem trabalhadores – porque nestes termos não o podem ser –, mas pela do dinheiro acumulado.

A Oxfam – uma organização contra a fome – garante que, em 2016, 51% da riqueza mundial ficará nas mãos de 1% da população mundial, estimada em 7,5 mil milhões (ou 7,5 bilhões, segundo a leitura brasileira ou americana). Este número mostra o enorme desequilíbrio existente na distribuição da renda e reafirma a divisão social que prevalece desde a primeira rutura, o senhor e os escravos, embora hoje com configurações diferentes. O que diz este número é que para cada rico há milhões de pobres.

É a falta do dinheiro o problema? A verdade é que o dinheiro existe, está nos grandes bancos, mas o sistema financeiro só sobrevive se existir o desequilíbrio social, tanto em termos económicos como em outros. O sistema vive das diferenças sociais.
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