24 de setembro de 2013

UMA QUESTÃO DE... PROSTITUIÇÃO


A prostituição é uma prática social muito degradante, todos concordamos, embora a História e a literatura nos tenham apresentado certas damas das camélias, poderosas e influentes, que, não obstante a sua profissão, atingiram um estatuto invejável.

Acredito que, porque a prostituição envolve, inegavelmente, o sexo, e porque o sexo é para nós um assunto que, conforme diz a cartilha, tem de envolver uma afinidade emocional, ou melhor, afectiva, e cumplicidade a nível profundo, devendo ser usado como uma extensão de amor, afigura-se-nos imoral quando é usado como mercadoria, o que revolta de tal maneira que chamamos às prostitutas de mulheres de vida fácil. Porém, cometemos logo com isso uma injustiça, pois não me parece haver nenhuma facilidade em ter de ir para a cama com desconhecidos, que tanto podem ser carinhosos como violentos, limpos como porcos, etc. como etc., em troca de dinheiro. Sei de pessoas que engatam desconhecidos após desconhecidos, mas fazem-no por prazer, e não porque são obrigadas (excluo os erotómanos, que são compelidos a isso por uma necessidade psicológica).

As prostitutas, sim, acho que não precisava de dizer isso, são pessoas como nós, e, não, não é porque são prostitutas que significa serem moralmente mais falhos que o resto de nós, aliás, em termo comparativos, elas prostituem o próprio corpo, enquanto a maioria prostitui a ideologia, a ética, e alguns o próprio país e o povo pelo qual é responsável.

As prostitutas são do nosso meio social, e por isso moldadas pelos mesmos princípios báscicos morais que nós, e o óculo pelo qual as vemos é o mesmo pelo qual elas se veem, daí é que se sentem párias, simples objectos, e perdem a sua auto-estima, principalmente porque estamos nós sempre de facho aceso, prontos para a queimança, a mostrar-lhes o quão miserável é a sua vida, de forma que acabam mesmo a aceitar que são menos dignas e simples dejectos sociais.

Temos prostitutas e prostitutas, eu sei. Há aquelas de luxo, que ganham numa noite apenas um tanto milhares de euros, e eu tenho ainda alguma dificuldade em compreender a prostituição de luxo. (Deixem-me só esclarecer, eu defendo que cada um deve usar o seu corpo da forma que entender, desde que não ponha terceiros em risco, se há alguém disposto a pagar para o que podemos oferecer quando o podemos oferecer, se não vermos problemas nisso, por que não? – os prostitutas políticos estão fora desse plano, porque põem todo um país em risco.) Como estava a dizer, tenho dificuldade em compreender a prostituição de luxo, porque está envolto num clima de falso glamour (ou real mesmo), muitas meninas são enganadas e julgam que vão tornar-se estrelas ou algo como isso e são sugadas por esse mundo, e daí começam a fazer fotos com casacos de inverno e de repente estão a fazer vídeos com as pernas abertas… já estou a tergiversar.

Vi na SIC Radical (um canal orientado para adolescentes) um programa que mostra um bordel, nos States, onde as meninas são exploradas por um casal de meia-idade. Parecem sempre todos felizes e sentem-se importantes porque aparecem na televisão. A ideia passada pelo programa é que aquele trabalho e igual a qualquer outro (sim, e por que não? – concordo que devemos levantar o estigma e as cercas morais sobre o assunto), no entanto, desconsidera todos os demais factores. Desconsidera que aquelas meninas estão a servir a um casal de proxenetas (ou talvez a uma organização mais complexa), visto que a casa fica com boa percentagem dos ganhos, e que a prostituição é “supostamente” ilegal. Além de que o programa está a fazer publicidade aquelas casas e às suas meninas.

Uma curiosidade acerca dos States, parece que só um estado americano tem a prostituição legalizada, mas se o acto sexual for filmado deixa de ser prostituição e para a ser considerado pornografia, que é legal – como se ela não se processasse nos mesmos moldes que a prostituição, como se não fosse sexo em troca de dinheiro. 

Aquele programa desconsidera que a nossa sociedade desvaloriza as prostitutas, por isso vai insistindo em dizer que aquelas meninas são tratadas com respeito e cavalheirismo, mesmo quando elas mesmo dizem aos clientes: podes fazer tudo o que quiseres comigo… “pois pagaste, és o meu dono”. (Aspas minhas). Quando elas mostram que ganharam 2.000 euros por uma sessão de sexo com um cliente que teve ejaculação precoce, o que vão pensar as milhares de adolescentes a ver o programa? Não é melhor largar a escola (que, por acaso, é garantia de nada) e começar a treinar os meus dotes da Fanny Hill (não as literárias, é claro)? Eu sei que há prostitutas que ganham muito mais do que isso, sorte delas, mas são exceções.



Sou a favor da prostituição, mas sou contra o aliciamento expresso que fazem às adolescentes, principalmente porque elas vão ser exploradas por terceiros. Se a prostituição fosse legalizada, e houvesse uma estrutura legal que protegesse as mulheres de abusos tanto dos clientes como de nós cá que as condenamos, eu não veria problemas nenhum nesse tipo de aliciamento, porque saberia que elas iriam trabalhar, manter a sua auto-estima e não seriam postas de parte. Eu sei que pessoas como a Sasha Grey, ou Jenna Jameson, são endeusadas, porque ficaram ricas e são famosas, embora sejam ou foram prostitutas, desculpa, artistas do sexo, mas elas são exceções das exceções.

O que queria dizer é que há diferentes níveis de prostituição, e eu queria aqui a escrever sobre o nível mais baixo, aquele onde as mulheres têm de se vender para sustentar os filhos e os maridos, ou das estudantes que precisam disso para as propinas da faculdade, e acabei por desviar-me.


vidas em saldo - reportagem da sic

Bem, é certo que pode haver uma ou outra que goste mesmo de prostituir-se, que junta o útil ao agradável, mas pelas estatísticas, são casos raros.

Eu acho que a prostituição deve ser legalizada, afinal já existe prostituição legalizada chamada de cinema pornográfico. No entanto, repito, também acredito que vai ser preciso muitas medidas milagrosas para tentar que as mulheres sejam menos exploradas. A legalização da prostituição não deveria ser de maneira a favorecer aos proxenetas, mas às próprias prostitutas, aquelas que ou optam por ela ou são forçadas a ela porque têm de sobreviver.

Se a prostituição não for legalizada, as prostitutas que só a têm como opção para sobreviver, vão trabalhar nisso a vida toda e no fim, quando forem velhas e acabadas e ninguém as quer, simplesmente ficam lixadas, entretanto, se for legalizada, elas pelo menos podem descontar para o estado e garantir uma reforma ou algo parecido. A prostituição é uma necessidade, má ou boa, mas necessidade (não entendam, necessário, pelamordideus).

Não falei do machismo que envolve a prostituição e nem falei da prostituição masculina, porque tirando aquela referente aos gays, a nossa sociedade chauvinista admira os gigolos, mesmo que secretamente, pois fazem sexo e ainda são pagos para isso.

E qual é a diferença entre a prostituição e a pornografia? por que a segunda é legal e a primeira não?

6 de setembro de 2013

TENTANDO ENTENDER... A CRISE SÍRIA

Um dia, por acaso, estava a acompanhar um debate filosófico entre o meu sobrinho, de sete anos, e o seu amigo, de uns nove ou dez, acerca da mentira, quando o amigo saiu com essa conclusão depois de analisadas as premissas e apresentados os argumentos: “os adultos também mentem, e muito mais do que as crianças”. Não manifestei a minha opinião, pois… onde estaria a solidariedade adultícia se eu confirmasse aos miúdos que eles tinham razão?

Numa analogia similar, considerando que os países ricos são os adultos, e os pobres são os miúdos, cuja opinião não é solicitada, nem levada em conta, eu percebo a solidariedade dos G20 com os americanos na questão de invasão à Síria. Solidariedade sim, porque embora saibam que se trata do interesse económico de um punhado de americanos superricos, aqueles que lucram imenso com a sua máquina de guerra (nada a ver com Van Damme), não vão agir em contradição e tudo o que pedem é um aval da ONU (outro pau mandado dos States). Bem, mas compreende-se, os países ricos têm interesse em não perder o seu domínio, e a melhor maneira de o não fazer é não embater de frente com o mais rico e poderoso deles. Sendo assim, os G20, ou melhor os G19, vão, de qualquer forma apoiar o G1, ou quanto muito, não fazer nada quando este decidir levar a sua avante. Trata-se da solidariedade adultícia.

Pode ter havido ataque com gás sarin na Síria – como pode não ter –, pode ter sido um trabalho tanto do governo i-“legítimo” – como pode ter sido da oposição – (o i- é para dizer ao Passos Coelho que a legitimidade do governo, mesmo que tenha 100% de votos, perde-se quando põe em risco a sua população em benefício de interesses económicos alheios), mas numa coisa todos concordam, milhares de sírios desgraçados estão a morrer massacrados pela ganância de uns quantos. Pois vê-se que tanto do lado sírio como do americanos há muitas coisas a aparecerem que cheiram a completas manipulações.

Diz-se que há mais ou menos 110 mil mortos desde o início da guerra civil síria, mas isso não interessava aos americanos, nem aos G19, são sírios, porra, nem pessoas são. No entanto, quando se fala que uns 100 sírios morreram com gás sarin, levanta-se a América, toda indignada: Isso é uma barbaridade!  Pois, claro que é! Onde já se viu? Matem-se com armas, com canhões, matem-se com garfadas no olho um do outro, aliás, até podem usar a piada mortal dos Monty Python, matem-se à paulada, matem milhões, matem bilhões, porra, mas não usem o gás, pois isso é barbaridade. Gás só é permitido nas prisões americanas, ninguém mais deve usá-lo.

Obama vai atacar a síria, retaliação, disse ele. Mas que raio fizeram os sírios à América para estes terem de retaliar?

Mas todos sabemos que o G1 não se importa com o que os outros pensam, ele apenas faz, no entanto, do lado de cá, vejo notícias sobre a crise síria que me deixam perplexos. Quem entende os média? Num artigo dizem que existem provas que atestam o ataque em Síria com armas químicas pelo governo, para logo no outro dizerem, em letras miúdas, que a ONU ainda não fez exames conclusivas, para logo a seguir, voltarem a carga em letras garrafais que houve provas e ADN sobre o uso do sarin e que o Cameron tem provas conclusivas, como se não soubessem que Powell, Bush e Blair já tinham apresentado provas conclusivas aquando do ataque ao Iraque? Por que carga d’água os média não usam a palavra “alegadamente” quando apresentam essas notícias em vez de servi-las com factuais, sabendo que muitos nem pensam sobre o que ouvem e partem logo do princípio que os jornalistas não mentem (ai, tenho de avisar o meu sobrinho).

A Síria vai ser invadida para fazer um cerco ao Irão? A Síria vai ser invadida para meter medo aos norte-coreanos e aos iranianos? A Síria vai ser invadida porque, pelos visto, a retirada das tropas de Afeganistão poderá criar desemprego para o milhares de mercenários americanos? A Síria via ser invadida por uma posição estratégica contra a Rússia? A Síria será invadida para um teste cabal dos drones e robots de combate? 

Mas quem raio legitimou a América como a polícia do mundo?

Acho que essas (ou algo como isso) deveriam ser algumas das questões que deviam ser levantadas e analisar a legitimidade de um país invadir o outro. Invadam então Portugal, porque o governo está a usar bombas decretatórias para liquidar a população... ai, por favor, não invadam, estava só a brincar.

Que Obama pôde ter mudado alguma da política americana… sim, ele pôde. No entanto, tal como já vaticinara, ele tem de cumprir as promessas feitas as multinacionais que financiaram a sua campanha, e ele é apenas um outro fantoche da grande e verdadeira América (os bancos e as multinacionais).


Tentei aqui entender a crise síria, mas continuo como quando comecei a escrever isto, não entendi nada.




1 de junho de 2013

MOVIMENTO CIDADE BELA - contexto e consequência

 A exposição é bastante breve e, consequentemente, não pode explicar todo o Movimento Cidade Bela (City Beautiful Movement), pelo que para mais informações convém fazer mais leituras e pesquisas sobre a matéria. Até lá, no entanto...

Até os finais do Séc. XIX, as cidades nos EUA cresciam desordenadamente, motivada pela ausência de planeamento para as cidades, pois a cidade não passava de um mero objecto de especulação económica e exploração imobilária. Os chamados os bosses ofereciam serviços urbanos mínimos aos imigrantes em troca de votos eleitorais. Não havia critérios de embelezamento e saneamento, e não havia nenhuma interferência das autoridades nos controles de uso e ocupação do solo; ao contrário de Paris, controlado por Haussmann.

Diferentemente da Europa em que os prefeitos ordenavam as reformas, nos Estados Unidos elas aconteceram através dos movimentos populares. O movimento City Beautiful (Cidade Bela), movimento cultural de referência da arquitectura americana de embelezamento das cidades, foi um deles e, talvez, o que mais impacto teve.

A exposição de maquetes de cidades modernas do Chicago em 1983, Columbian World’s Fair, apresentava cidades com traçados novos, por exemplo, eixos definidos, lagos, amplas avenidas, recintos com vistas grandiosas, paisagens soberbas e asseio geral, era uma expressão completamente diferente e ideal da cidade, mostrava uma paisagem imaginária sem comparação com as das cidades reais norte-americanas. E teve por isso um grande impacto sobre o planeamento urbano, tornando-se os conceitos nela apresentados princípios orientadores da Cidade Bela.

A exposição foi realizada por arquitectos do movimento das Belas Artes e que foram precursores da Cidade Bela, que obteve desta forma grande impulso. Aliás, a exposição foi dirigida por Daniel Burnham, o principal planeador da Cidade Bela, que foi muito influenciado pelo planeamento das cidades europeias, especialmente Roma e Paris de Haussmann.

A meta da Cidade Bela era, segundo Jane Jacobs, a cidade monumental. Os edifícios eram agrupados para criar um efeito o mais grandioso possível, dando ao conjunto um tratamento de unidade completa, separada e bem definida. No entanto, para Olmsted, a Cidade Bela não se baseava apenas nos edifícios monumentais, o objectivo do movimento consistia na dimensão e forma das ruas, dimensão dos edifícios e localização em relação recíproca com os espaços públicos, disposição das zonas sem edificação, e sobretudo, tratamento das zonas sem edificação com ruas, postes, árvores e valetas.

Northbourne Avenue, Canberra
Os defensores da Cidade Bela pretendiam que através do embelezamento da cidade podia-se resolver os problemas sociais, morais e cívicos; fazer as cidades americanas emular culturalmente com as cidades europeias; e o uso dos serviços públicos indiscriminado, tanto pela classe alta como pela "ralé".

O movimento da Cidade Bela procurava separar funções públicas e culturais e descontaminá-las da cidade real. Objectivava não só melhorar a estética, apresentando uma cidade visualmente agradável, mas também dava respostas às questões de comércio, indústria e transportes, aos parques e à margem do lago, ao crescimento populacional e ao futuro caminho do desenvolvimento regional da cidade.

Aliás, foi o primeiro plano director à escala da cidade a definir pormenorizadamente como seria a cidade num determinado ponto do futuro, criando objectivos prévios.

Aplicou-se os princípios da Cidade Bela no planeamento de Camberra, em 1913. E esteve por trás da concepção de Central Park por Olmsted. Também esteve presente na criação do parque Lincoln Memorial de Washington, e em Government Center, Cleveland, em Benjamin Franklin Parkway, Filadélfia, e em alguns outros casos.


14 de abril de 2013

UMA QUESTÃO DE... LIBERDADE DE EXPRESSÃO


O senso comum diz: onde acabam os teus limites começam os meus, sustentando-se no princípio de boa convivência.

Entretanto o mais certo é que isso não é assim tão simples como se diz, na medida em que esses limites na maior parte das vezes são marcas invisíveis e imperceptíveis, ou visíveis, porém, ilusórias, nada mais do que miragens. De qualquer forma não há como negar que este simples princípio consegue estabelecer algum equilíbrio, no entanto, quando as pessoas invocam a liberdade e os direitos, aí a coisa complica.

A liberdade nunca pode ser plena, ela é ultra-condicionada tanto por outros factores como por ela própria (considerando que a nossa liberdade e o direito a ela tem de se submeter, na maior parte das vezes – e para a maioria dos mortais, conforme a sua importância social –, à liberdade e o direito a ela de outras pessoas). Somos livres mas não tanto ao ponto de entrar numa casa alheia e usar as coisas dela, por exemplo… oh… essa foi demasiado básica… somos livres, mas não tanto ao ponto de nos mandarmos embora de um emprego quando temos contas por pagar no final do mês, ou para nos darmos ao luxo de não ter uma conta num banco qualquer, ou para não nos submeter às filhadaputices das leis governamentais que nos tramam... hem!, somos livres mas não tanto ao ponto de agredir física ou emocionalmente outras pessoas.

E é sobre esta parte complicada da liberdade que eu quero reflectir: a liberdade de expressão. A liberdade de expressão é uma das mais confusa, tramada e opressora forma de liberdade de que eu tenho conhecimento; muita gente pretende que pode dizer o que bem lhe dá na telha sob a alçada da liberdade da expressão, mas não percebe que embora pareça que possa, talvez não deva usar essa aparente liberdade (e não, não quero ir para o sempre aclamado e vulgar direitos e deveres).

Em nome da liberdade de expressão faz-se declarações difamatórias, publica-se o ódio, publica-se a estupidez, chama-se de estúpido aos estúpidos, aos iluminados e aos pseudo-iluminados, sem discriminação, desde que não estejam de acordo com a nossa forma de pensar. Eu mesmo que estou praqui a falar, por exemplo, ao escrever uma crítica sobre um filme que não gostei, chamei de pseudo-intelectuais àqueles que disseram que gostaram, e digo, em minha desculpa, que tenho os meus motivos para isso e justifico-os. E é isso que toda a gente faz quando usa da chamada liberdade de expressão, agride os demais e justifica a agressão.


O que não faltam por aí são artigos escritos por pessoas cultas (considerando as citações que fazem), académicas (por causa da estrutura séria dos seus textos) e bons escritores (porque os textos têm ritmo e são bem redigidos e apelativos), feitos à bandeira da liberdade de expressão, mas que não passam de um atropelo à expressão da liberdade: textos misóginos, textos racistas, textos homofóbicos, textos partidários, textos religiosos, textos ateus, textos eteceteristas; e quanto com mais cultura são escritos, mais perigosos são, porque se baseiam sabiamente (mas de forma errada) em justificações bem manipuladas que, sem um pensamento crítico da parte de que os lê, induzem em erro.

Há uma confusão constante, as pessoas julgam que a liberdade de expressão é uma expressão de liberdade, pois devia ser, mas considerada no plano ético, onde temos o tríptico: eu, tu e nós, vemos que restringimos a nossa liberdade quando só respeitamos um dos elementos desta santíssima trindade e fazemos pouco caso dos outros. Quando só olhamos para o próprio umbigo, quando só julgamos que a nossa opinião é que conta e quando fazemos tudo para defender essa opinião e o direito de a ter, o que poderemos esperar que a alteridade faça? É aqui que triunfa o príncipio de os meus limites e os teus.

Por exemplo, lembro-me de alguém justificar que tem o direito de não gostar dos gays e de não os querer perto de si. Pois, faz sentido, tanto quanto o meu sobrinho tem o direito de não gostar de repolhos. Porém, os repolhos são para serem comidos, não têm decisão na matéria, mas um gay tem (ou devia ter) os mesmos direitos que esse alguém que não os quer por perto, e, voltando à santíssima trindade, percebe-se facilmente que apenas o elemento eu fica em desvantagem diante dos outros dois.

A questão da liberdade é complicada, a da liberdade de expressão é estupidamente mais complicada ainda, mas talvez se simplifique se pensarmos que se com ela estamos a pôr em questão a liberdade de outras pessoas é porque não faz sentido e é prejudicial. Como por exemplo disse alguém inteligente, se há muitas pessoas heterossexuais solteiras que não querem casar-se e acham ridículo o casamento, mas ninguém lhes acusa de estragar a seriedade casamento por isso, por que raio acham que os homossexuais que querem casar-se (entenda-se, respeitam essa instituição) é que vão pôr em risco o seu significado?

Sem esticar mais, e não me sentindo muito claro e inteligente hoje, vou acabar aqui o artigo e deixar a sugestão de que quando a nossa liberdade de expressão agride qualquer expressão de liberdade, pondo em risco o tu e o nós (considerando que se o eu atacar o tu, este reage atancando o eu, e o nós deixa de existir), então o mais certo é não fazermos o uso dela.

1 de abril de 2013

LOOS ORNAMENTAL, 2008


O documentário Loos Ornamental, relizado por Heinz Emighloz é tão maçante e dá mais sono do que ouvir o Vítor Gaspar nos seus monocórdicos discursos a fazer ensaios fictícios sobre como saldar a dívida com a Troika. Eu explico (não a parte do Vítor, é claro).

Cinema, do grego, movimento (hoje também tido como o espaço onde se projectam filmes), é uma técnica de usar uma sequência de fotografias de modo a criar a ilusão de movimento, é uma forma de contar uma história.

O cinema mudou muito ao longo do tempo, mas uma constante, desde os primórdios da sua existência, quando os homens da caverna projectavam sombras nas paredes para contar como é que foi um emocionante dia da caça, foi sempre o movimento. Cinema é um conjunto de imagens sequenciais, de fotografias interligadas para dar um sentido, um conjunto de pontos que forma uma linha, geometricamente falando. E assim mostra-se, senão superior, pelo menos maior que a fotografia.

Dito isto, quando se vê Loos Ornamental, o que se chega à cabeça é: mas que raio, isto não é cinema!, e não no sentido de um filme caseiro qualquer não ser também cinema, aliás, a própria ideia de filme é violada com Loos Ornamental.

excerto do filme

Podia-se dizer que Heinz Emighloz simplesmente inverteu o conceito de pôr a fotografia em movimento para fazer cinema, e revolveu pôr o cinema em estática para parecer fotografia. Teoricamente é um bom exercício de masturbação mental, o conceito, é certo; mas na prática funciona tão bem como a licenciatura do Relvas. Quer dizer, a licenciatura está lá porque foi dada e é assim chamada, mas é tão vazia de sentido e sem conteúdo.

Adolf Loos, como aqui já referi, é o meu arquitecto de eleição, por isso a expectativa com que fui para o documentário e o entusiasmo eram muito altos, e fomos defraudados, tanto eu como Loos, considerando que o filme podia ter sido feito em Power Point com melhores resultados, na medida em que é um conjunto de planos estáticos das obras de Loos filmadas por uma câmara, e quando não há uma cortina a mexer tornam-se indistinguíveis de fotografias. As imagens, como se pode ver no excerto, são intevaladas por uns dez segundos ou mais, e assim, em sequência fazem o filme, sem narrativa e sem música (ai, que chato).

É certo que as obras de Adolf Loos falam por sim, mas se o próprio dizia que não gostava de fotografias porque manipulam a visão do espaço, como é que Heinz Emighloz vem fazer-lhe uma homenagem usando fotografias apenas, quando possui uma ferramenta que lhe permite ir mais além? (aliás, mesmo que Loos gostasse de fotografias, o filme continua mau) É como sair de submarino para ir fazer vela (nenhuma conotação com o Portas, entenda-se.)

Bruno Zevi, no seu Saber Ver Arquitectura (livro do qual ainda vou apresentar uma resenha aqui), dizia que as revista não ensinam a ver arquitectura porque falta-lhes a dimensão do movimento, a quarta dimensão, e por isso, quando Heinz Emighloz pretere da ilusão da quarta dimensão para mostrar arquitectura, o resultado só pode ser um: mau. E o pior é a ausência de narrativa e existir apenas o barulho natural de fundo quando filma em espaços exteriores, o que também não resultou muito bem, pois vários documentaristas (Herzog, por exemplo) fazem-no e resulta bem, pois cria momento quando o recurso é usado pautadamente, mas quando é uma constante, aborrece.

Entretanto, o pior de tudo é mostrar obras de Loos sem falar de Loos.

Loos dizia-se contra ornamento, mas referia-se às mariquices da art decor entre outras coisas, porque os seus espaços interiores eram muito bem ornamentados (e caros, só para quem pudesse pagar), e convinha dizer isso, pois quem não sabe de Loos, vê o documentário e no final, continua a não saber de Loos. É necessário falar das técnicas de Loos, das suas ideias, mostrar as plantas, etc, porque de contrário, o que se obtém é um filme para turistas comuns (usando a comparação de Zevi), quer dizer, vê-se tudo e mais alguma coisa, sempre com a pressa de seguir em frente para ver mais, mas sem perceber claramente a dimensão do que se viu.

Loos Ornamental não seria mau se tivesse sido uma exposição ou um livro, no entanto, tem uma boa nota no IMDB, provavelmente atribuído por alguns intelectuais, daqueles que mastigam papel e filosofam que não sabe a lasanha porque a realidade é ilusória (os que não vêem que vai o rei nu - adoro esta metáfora). Mau Emighloz, mau.



20 de fevereiro de 2013

APRENDENDO A DESENHAR (locais, lugares e sítios - cap. II)

E aqui estão mais uns bocadinhos de imagens da minha odisseia no campo de aprendizagem de desenho. Alguns destes já têm quase um ano ou mais, porém...


rio douro (acho eu), vista do palácio de cristal, porto
camioneta, interior 
cruzamento, à frente da piscina municipal de são joão da madeira
um refeitório qualquer
comboio 
um restaurante qualquer
chelas, não sei o que é aquilo
rio douro, vista de jardim do morro
desenho conceptual
auditório da lusófona
aula de projecto
estação de benfica