3 de agosto de 2012

OLMSTED E A ARQUITECTURA PAISAGÍSTICA


Nota introdutória

O presente texto vai ser focado no conceito da cidade do teórico urbano Frederick Law Olmsted. Pretende-se explorar esse conceito para comparar com os padrões actuais da concepção da cidade e ver até que ponto a sua influência se estende, ou se não teve influência nenhuma.


Breve biografia


Frederick Law Olmsted (1822-1903), considerado o pai da arquitectura paisagística norte-americana[1], foi um teórico urbano muito importante, senão um dos mais influentes, nos finais do Séc. XIX e início do Séc. XX. Desenhou Central Park de Nova Iorque, Prospect Park de Brooklyn, South Park de Chicago, entre outros, analisou projectos chaves iniciados em 250 áreas urbanas dos EUA e elaborou estratégias e programas que foram bem sucedidos e outros também que falharam[2]. O seu livro Civilizing American Cities: Writings on City Landscapes, explica o conceito urbano por ele defendido.
Olmsted foi uma personagem deveras interessante, foi marinheiro, comerciante e jornalista, e teve uma brilhante carreira nesta última profissão.
Em 1850 viajou para a Inglaterra para visitar jardins públicos onde foi profundamente impressionado pelo parque Joseph Paxton Birkenhead; viagem que posteriormente, em 1852, relatou no seu livro Walks and Talks of an American Farmer in England.
O seu amigo e mentor Andrew Jackson Downing, arquitecto paisagista, foi quem primeiro propôs uma reforma do Central park de Nova Iorque; foi através deste que conheceu o arquitecto Calvert Vaux. Após a trágica morte de Downing, em 1858, Olmsted, em equipa com Vaux, resolveu participar no concurso público para Central Park com um projecto em honra do amigo morto e ganhou o concurso[3]

A concepção do Central Park norteava-se em torno da ideia de igualdade social. Para Olmsted defendia que o espaço verde comum deve ser acessível a todos os cidadãos, independentemente da classe. Esta ideia que agora um dado adquirido e inerente ao conceito de parque público, não o era nessa altura. Era uma ideia à parte e revolucionária, de ordem tal que o mandato de Olmsted como comissário do parque se transformou numa longa luta para a preservar.

Em 1885, Olmsted criou, em parceria com os filhos, o que foi considerado a primeira firma de arquitectura paisagista a tempo inteiro.

Em 1895, com 65 anos, forçado a abandonar o negócio por senilidade, deixou os seus filhos a continuar o seu legado. Morre em 1903, deixando um importante trabalho sobre arquitectura paisagista[4]


Arquitectura paisagista

A história da arquitectura confunde-se durante um certo período com a história de jardinagem, todavia diferem. Ambas as artes estão preocupadas com a composição da plantação, o terreno, água, pavimentação e outras estruturas, mas, o design de jardins é orientado para espaços privados e vedados, enquanto que a o design da paisagem reflecte-se tanto em espaços fechados como espaços abertos (praças, parques e vias verdes). A arquitectura paisagista entretanto, não é uma arte recente, pois remonta ao tratamento de espaços exteriores ancestrais por sucessivas culturas antigas, da Pérsia e Egipto à Grécia e Roma. Durante o Renascimento, este interesse pelo espaço exterior, que havia diminuído durante a Idade Média, foi revivido com esplêndidos resultados na Itália e deu origem às vivendas ornamentadas, jardins, e grandes praças exteriores.

No Séc. XVIII, a Inglaterra tornou-se o foco de um novo estilo de desenho paisagem; muitos dos parques desenhados nessa altura ainda perduram hoje. 

O termo arquitectura paisagista foi pela primeira vez utilizado por Gilbert Laing Meason no título do seu livro sobre a Arquitectura Paisagística dos Grandes Pintores da Itália. Era sobre o tipo de arquitectura paisagística encontrado em pinturas. O termo foi, no entanto, no Séc. XIX, retomado à luz de um novo conceito por J.C. Loudon e A.J. Downing.

Através do Séx. XIX, o planeamento urbano tornou-se mais importante, e era uma combinação de planeamento moderno com a tradição de jardinagem e tornou-se o foco da arquitectura paisagista. Foi na segunda metade do século XIX que apareceu Olmsted, com as suas teorias e sobre a arquitectura paisagista e desenhos de parques que ainda continuam a influenciar esta arte[5].

O parque surge como facto urbano relevante e tem seu pleno desenvolvimento, com ênfase maior na reformulação de Haussmann em Paris, e o Park Movement liderado por Frederick Law Olmsted e seus trabalhos em New York, Chicago e Boston.



Park Movement e Olmsted

Tal como o nome indica foi um movimento que revolucionou a forma da concepção da paisagem urbana, nomeadamente, na concepção de espaços verdes, por outras palavras, na criação de pulmões para a cidade, criando parques.

Para Olmsted, parque é um lugar com amplitude e espaço suficientes e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem, no seu sentido mais antigo e radical, naquilo que os aproxima muito de cenário. Ou seja, parque tem que ser um lugar artístico com uma identidade própria e adequado ao uso (recreação, espraiamento e embelezamento da paisagem).

Olmsted defendia a utilização económica dos espaços livres, criando oportunidades de recreação e também de preservar os recursos naturais, controlo de enchentes, proteger os mananciais, entre outras coisas, para obter espaços agradáveis para passear e morar. Esses trabalhos, além de inspirar a criação de inúmeros parques, mudaram o conceito de qualidade ambiental urbana. Segundo ele, o movimento se resumiria em alguns objectivos operativos, entre eles: a dimensão e forma das ruas; a dimensão, carácter dos edifícios e sua localização em relação recíproca com os espaços públicos; a disposição das zonas sem edificação; e o tratamento dessas zonas sem edificação com eventual presença de ruas, com distribuição dos objectos emergentes sobre elas, com árvores, postes, valetas, etc[6]

A constituição dos parques era a primeira escala de uma intervenção mais complexa de planificação física e social. Olmsted considera os parques como demonstração da saúde mental do povo e instrumento de luta contra a congestão e instrumento de redistribuição de riqueza. Acreditava ainda que o parque era o símbolo de uma nova vida comunitária e emergiria como lugar de alegria, onde fosse possível cultivar todas as actividades espirituais impedidas na cidade. 

Para Olmsted, o parque substituía o edifício religioso que havia simbolizado o espírito unitário da comunidade primitiva. A cidade, organizando-se em torno de seus próprios espaços verdes, voltava a encontrar a unidade desfeita, reconstruindo um símbolo laico da comunidade perdida. Além disso, para Olmsted, o parque traduzia-se em justiça social e participação democrática: as classes inferiores não estavam mais segregadas na cidade, podendo gozar da natureza igualitariamente acessível, ou seja, o parque era um instrumento de nivelamento social e de educação do povo para a responsabilidade colectiva do bem-estar. 


Nota conclusiva

Através destes conceitos um tanto utópicos defendido por Olmsted, superou-se o modelo de parque anterior, idealizado em bairros burgueses e para exibição social, migrou-se para concepção de espaços verdes destinados a uso colectivo, procurando recriar as condições naturais que a vida urbana insiste em negar, local de sociabilidade onde o povo encontre suas origens, no contacto físico e activo com a natureza. 

Começa-se assim a criar lugares de socialização para jogos e ginástica, como o Volkspark, na Alemanha[7].




[1] http://www.soniaa.arq.prof.ufsc.br/arq5605/Arquiteturadapaisagemdefinindoaprofissao.htm
[2] http://mitpress.mit.edu/catalog/item/default.asp?ttype=2&tid=6887
[3] http://www.fredericklawolmsted.com/Lifeframe.htm
[4] http://en.wikipedia.org/wiki/Frederick_Law_Olmsted
[5] http://en.wikipedia.org/wiki/Landscape_architecture
[6] http://aprender.unb.br/mod/resource/view.php?id=26770
[7] http://aprender.unb.br/mod/resource/view.php?id=26770


P.S.: não faço ideia do que aconteceu com o resto do final do texto.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...