23 de junho de 2011

MEMÓRIAS DE LÚCIFER - ADÃO E EVA - O Mundo Perdido - parte finalle


THEN, on ADÃO E EVA:

Deus sabia que Adão não estava de acordo com a construção da mulher, por isso fê-la uma criatura bela, resplandecente, vistosa e apaixonante.
– Adão já está a passar das marcas. Vou mandar Adão para uma viagem de quinhentos séculos.
 Como soubeste que estavas nu? - perguntou Deus. - Por acaso comeste a fruta proibida?
– Como soubeste então que estavas nu?
 Merda! Não sou cego.
No entanto, fez-se uma luz no cérebro dele, e Deus lembrou-se dos códices, afinal não precisava expulsá-los, sempre havia uma chance.




NOW


A nova no paraíso espalhava-se com uma rapidez que fazia um relâmpago morrer de vergonha. Deus nem acabou mesmo de pensar no códice quando o seu telemóvel tocou. Ele não queria atender, diante das circunstância, mas talvez porque precisasse de ganhar tempo para pensar, ou porque esperava que eu talvez O aconselhasse, achou melhor fazê-lo. Pediu licença e afastou-se do grupo.
- Eloim! Que história é essa dos códices?
- Quais códices? Ah, sim! Os códices sou eu que os faço; era para ser uma desculpa. Decidi remodelar os homens.
- Mas sabes que se remodela-los já não serão as mesmas pessoas, já não se lembrarão de nada, e provavelmente poderão fazer o mesmo erro?
- Poderão se eu deixar a Árvore Morta no mesmo sítio…
- Mas tu não podes destruir a criação…
- Por isso é que vou fazer novos códices.
- Eloim, não podes voltar atrás com a tua palavra. Se fizeres isso, os teus anjos irão perder respeito por ti, acredita em mim. O que podes fazer agora é criar um plano de contenção de maneira a que possas recuperar os homens para o Paraíso…
- Não posso simplesmente expulsá-los, Lúcifer, não estás a ver?
- Mas remodelá-los é o mesmo que destrui-los, porque matarás as suas experiências, já te disse...
- Mas expulsá-los é abandoná-los, e isso não é uma atitude ética. Que tipo de pai eu seria?
- O tipo de pai que não mata e é obrigado a tomar decisões que beneficiem o filho.
- Não, Lúcifer, não. Vou remodelá-los. Expulsá-los é demasiado cruel, eles não estão preparados para se autogovernarem. Vê o estado em que Adão tem o Paraíso, com todas a regalias e facilidades que ponho a seu dispor, imagina o que faria se não tivesse tudo isto.
- Ele aprenderia, Eloim – eu estava desesperado, quase a chorar, precisava que o Eloim não destruísse Adão e Eva -, ele só está assim como está porque nunca lutou para alcançar nada, teve tudo de bandeja. Se tiver que trabalhar para si mesmo, desenvolverá os seus talentos, tu subestimas o potencial dessas duas criaturas.
- Esquece, Lúcifer – Eloim também estava quase em lágrimas, a sua voz tremia de comoção. – Não poderei ficar parado a ver Adão em dificuldades de o expulsar daqui.
- Mas, El, então por que raio puseste as frutas nas árvores?
- Porque tu assim mo aconselhaste… porque eu estava entediado… eu nunca quis expulsar os homens, esperava que Adão fosse mais forte… Sabes, eu queria expulsa-lo mesmo e criar novos homens… Ah, Lúcifer, não sei mesmo… Realmente não sei… - Deus estava a chorar. Ele ama os seus filhos.
- Vamos fazer uma coisa, Eloim. O plano da expulsão foi meu, portanto, podes culpar-me de tudo, mas não destrua Adão e Eva. Expulse-os, culpando-me, e assim, nada te inibirá, ética ou legalmente, de prestar-lhes socorro posteriormente. E, como eu tinha dito, faz um plano de contenção que te permita recuperá-los. Eu prometo ajudá-los também como puder, enquanto eles estiverem fora.



O instante em que Deus deixou a multidão para ir falar comigo e o instante em que voltou estava separado por uns poucos segundos, mas na verdade, demorou muito mais tempo, porque ele teve que traçar todo um plano para recuperar Adão e Eva. Deus tinha esse truque de congelar o tempo e usava-o sempre que precisasse.
- Cavem daqui – gritou Deus, todo vermelho, para Adão e Eva. Tocou a campainha, vieram anjos. – Ponham-me estes dois fora deste sítio – ordenou. Virou-se para Adão: – Não sabes o que fizeste. Eras o chefe disto – abriu os braços indicando o Paraíso –, todos os animais estavam sob a tua alçada. Provocaste a tua expulsão, tens de levá-los contigo...
Enquanto Deus ainda falava, os animais vinham para reclamar. A nova no Paraíso, como eu disse, viajava rápida.
Na dianteira dos animais estava a serpente.
- Que significa isto, pai?
- Cala-te, serpente – ordenou Deus.
- Vamos pagar pelo erro dos homens? Foram eles que comeram a fruta e nós também vamos ser expulsos?
- Eu disse: cala-te, serpente.
A serpente não se calou e os outros animais juntaram a sua voz à dela numa berraria infernal. Cada um reclamava. Não está certo que alguém pague pelo pecado que não cometeu. Onde está a justiça? Adão tinha sempre mais do que todos, abusava em tudo e de todos, fazia o que queria e eles tinham que se resignar, e agora que ele fez merda, por que razão deviam ser eles a comê-la. Adão que comesse sozinho a sua merda.
- Isto não é justo. Não pode ser. É injusto – berravam os animais.
- Estão surdos, não? – gritou Deus. – Disse-vos para calar e não me querem ouvir. Está bem. A partir de agora, como querem fazer-se de surdos, passarão a ser mudos, nunca mais falarão. E tu, serpente resmungona, serás a eterna amiga dos homens, morder-lhe-ás os calcanhares e eles pisar-te-ão a cabeça; e dissecar-te-ão para estudar nos laboratórios, e usarão o teu veneno para fazer antídotos e alguns ate irão comer-te e fazer sapatos com a tua pele. Hás-de ver.
Todos os animais a partir de então emudeceram... bom, não era bem emudecer. Desaprenderam a fala. Abriam a boca, mas apenas sons estranhos saíam dela.
- Pai – apelou Adão, avisado –, não nos ponhas no mesmo mundo com estes brutos. Eles nos odiarão por sermos a culpa da sua expulsão e perda da fala.
- Não te odiarão – disse-lhe Deus –, terão medo de ti. E não exageres na comiseração, da sua expulsão és a razão, mas da perda da fala são eles os culpados.
- Pai, desculpa-nos – suplicou Eva, com lágrimas nos olhos, sacudindo o silêncio de si. Sentindo-se não atendida, acrescentou: – Desculpa, pelo menos, a Adão e a estes animais inocentes, até mesmo a serpente.
- Cala-te, Eva – gritou Adão. – Não vês que é isso que Ele quer, que nos lamentemos e prostremos diante d’Ele como se fosse o centro do mundo?
– Se fosse só por ti... – ameaçou Deus, apontando o dedo a Adão. Virou-se para Eva, tocado pela sensibilidade dela: – Um dia, hoje te prometo, uma mulher vai dar a luz ao vosso passaporte para cá.
- Mas sou a única mulher – admirou-se Eva, com medo de que Adão se transviasse por outra.
Deus sacudiu a cabeça, era difícil explicar a Eva o que queria dizer.
- Fica assim como está. Não tentes sondar os meus mistérios.
Então uma luz forte incidiu verticalmente sobre Adão e Eva, e lentamente o céu começou a abrir, revelando-se uma cúpula. A luz incidente era confusa, não havia certeza se a vinha de cima ou de baixo, porque não fazia sombra. Eis que de repente um espelho surgiu lá de cima, volteando no ar, e no instante seguinte, todos os animais foram arrebatados por ele, aparecendo à frente Adão, Eva e Serpente, a bater na superfície interior dele, a gritar:
- Forquinhas! Forquinhas!

E assim Adão e Eva perderam assim o Paraíso, tendo Deus os mandado para a zona fantasma, quer dizer, Terra. Entretanto, tirando o próprio Deus, Os únicos no Paraíso que ficaram com pena deles foram os que mais Adão chateou, os anjos da DIABO e da SATANAS. Como reclamação, eles abandonaram o Paraíso e vieram se juntar a mim, no Inferno. Não concordaram com a decisão de Deus.




Anos depois, após muito trabalho para construir o novo Paraíso, Adão perguntou a Eva, lembrando-lhe o assunto há muito tempo hibernado. Não falavam disso para não chamar a nostalgia dos tempos passados, quando tinham rádio, televisão, Internet, luz e água canalizada.
- Por que mesmo comeste a fruta, querida?
- Foi a serpente que me enganou, disse que era a fruta do poder.
- Poder? – Adão riu-se, sem graça. – O único poder que ganhámos com isso foi que somos nós a garantirmos agora a nossa sobrevivência e a mandarmos em nós mesmos.
Eva calou-se, não gostou nada de levar com a culpa de tudo. Afinal de contas, Adão comeu a fruta da sua livre vontade, não podia e nem devia atirar as culpas nela e dizer: foi a mulher que me deste. Eva sempre se lembrou disso, nunca o conseguiu esquecer, mas... pronto! Adão que falasse dela o que quisesse, por conseguinte, faria dele o que quisesse.
– Mas como queres que eu soubesse, Adão? A serpente me disse que eu aprenderia a conhecer o belo e o feio, que teria pessoas que tentariam se medir comigo, como tentam medir-se com Deus... e acima de tudo, que ias amar-me.
O Amor, oh!, o amor.


- Que eu ia te amar? – repetiu Adão. – E não é que não amei... Mas, merda! Querida, fizeste isto tudo para seres a número um?
- Não, fi-lo pelo teu amor – respondeu Eva, chateada.
Adão, de repente, começou a berrar, despejando sobre Eva os nervos há anos contidos. Berrou tanto que começou a perder a voz. Eva não pôde suportar e começou a chorar.
- Fiz tudo por ti e é com isso que me pagas.
Eva chorava e gritava, puxando os cabelos e rolando no chão pedregoso, provocando nódoas no próprio corpo. Adão ficou assustado, e pensou que ela estava a enlouquecer.
- Eva! Querida...
- NÃO! NÃO QUERO SABER DE NADA. VAI-TE EMBORA.
- Querida!
- Vai – voltou ela a gritar. Não quero mais te ver.
- Eva, calma! – conseguiu Adão finalmente dizer. Agarrou-a pelos ombros, sacudiu-a para fazer passar aquela onda de histeria que lhe circulava nos neurónios. – Está bem, aceito – disse, pondo-lhe o indicador sobre os lábios, pedindo atenção. – Acredito que tudo o que fizeste foi por me amares, sei que não sabias que isto ia dar para o torto. – Depois de ver que estava a ser ouvido, explicou: - A minha gritaria não era para ti dirigida, acabei de perceber uma coisa: a nossa expulsão foi coisa planeada. Se calhar estávamos a minar o Paraíso.



Eva franziu o sobrolho, muito admirada. Nunca pensara nisso, e não conseguia acreditar no que disse Adão. Se todos os anjos gostavam dela, como podia ela estar a minar o Paraíso? Não perguntou nada, porque Adão explicou o porquê do que disse:
- Disseste que fora a serpente a autora daquele texto que me mostraste daquela vez. Aquilo não podia ser uma coisa vinda dela própria; mesmo eu tive que ir ao dicionário e invocar Cristo para que me ajudasse a compreender o que queriam dizer as palavras dela. Tudo aquilo fora-lhe ensinado, ela não possuía cérebro suficiente para imaginar tantas coisas e conhecer toda aquela filosofia. Só não sei quem a mandou dizer-te aquilo... mas desconfio que tenha sido o pai; pois, quando os animais foram reclamar, a serpente era a porta-voz, toda convencida de importância, e estava também ali esquecendo-se que fora ela mesma que te enganou... e ainda estava a deitar-te as culpas. Talvez seja mesmo o pai que a mandou, visto que lhe tirou a fala para não ser acusado.
Isto foi o que Adão pensou e disse. No entanto, Eva não acreditou nele, porque não conseguia ver nenhum motivo para que o pai os quisesse expulsar do Paraíso. Defendeu o pai, contando a Adão o que nunca lhe tinha dito, que a serpente usava Internet e era por esse meio que falavam, quando ele as proibiu de se encontrarem, e que talvez ela tivesse lido tudo aquilo lá. Adão não ficou convencido, mas deram o assunto por terminado, principalmente porque acusou Eva de desobediência e ela o acusou de tirania, reclamando a liberdade. Nunca mais voltaram a tocar nele.
Adão e Eva viviam entre dificuldades, mas desenrascavam-se bem no viver. Que valia o Paraíso, perguntavam às vezes, se estavam ao lado um do outro?

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