6 de junho de 2011

ESTRELAS O MEU DESTINO, Alfred Bester (1956) - por que somos limitados


Há oito anos, indo visitar uma pessoa, ao passar junto a um monte de lixo vi um livro, tinha a capa intacta, mas não conservada, e estava seco, apanhei-o, faltavam-lhe umas tantas páginas no fim, e não sei por que não o deitei fora, pois aquilo era um bom portador de bactérias, o título era Estrelas O Meu Destino, escrito por Alfred Bester. Não encontrei a pessoa que tinha ido visitar, não tínhamos telemóvel na altura, por isso só me restava esperar por ela, e aí fiz o maior erro daquele período, comecei a ler o livro, jactando-me de tê-lo achado.  Depois estive muito doente, quase às portas da morte, mas não foi por causa do livro, foi porque apanhei sarampo.

Estrelas O Meu Destino, conta a história de Gulliver Foyle, um homem amoral e mentalmente, hum!, reduzido, que deixado no espaço para morrer resolve vingar-se destruindo a nave que não lhe deu socorro. Gulliver é mentiroso, devasso, abutre, cancro ambulante, mas, pudera!, a sua época , como começa o livro, era uma idade de ouro, uma época de grandes aventuras, de desafios constantes e de morte violenta... mas ninguém pensava assim. Era um futuro de fortunas e de roubos, de pilhagens e de saques, de cultura e de vício... mas ninguém o admitia. Era um século de extremos, com todo os fascínio da extravagância e da excentricidade... mas ninguém o amava. 

E nesse seu intento ele entra em contacto com o dono da companhia que, obviamente, não quer a sua nave destruída e que além disso tem outros interesses em Gulliver, Gully Foyle, pois ainda que o próprio não saiba, é o melhor jauntador de sempre. Jauntar foi assim nomeado porque a primeira pessoa que o fez e o documentou chamava-se Jaunte, mas para nós, hodierno, ainda é conhecido por teleporte. Gully consegue teletransportar-se a distâncias inimagináveis tanto no tempo como no espaço e isso faz dele a pessoa mais especial da sua época; e isso acaba por mandá-lo para uma "prisão", onde o "reduzido" Gulliver trata de aprender para poder efectuar a sua vingança (cheira a Dumas, não cheira?).

Estrelas o meu destino é um livro arrebatador, ritmo rápido, quase cinema, entre arriscado e seguro, e uma crítica às corporações e o seu sistema, que não hesitam e tirar vidas em nome de lucro, corporações essas que podem vestir-se de diferentes maneiras, tanto como multinacionais como governos. Se tivesse 500 páginas e fosse relançado hoje seria um best-seller.

Estrelas O Meu Destino, também conhecido por Tigre! Tigre! é um dos meus livros de ficção de sempre, principalmente porque não o acabei de ler, devido às páginas que faltavam, o que causou o meu arrependimento, visto que tenho desde essa altura procurado por ele, para ver se o conseguia acabar, tanto em bibliotecas como na net. Hoje encontrei um pdf em espanhol, e oito anos depois… uffffa, vou acabá-lo.

O livro é muito bom, e por ser simples, sem aparentes mensagens profundas, lê-se com bastante facilidade, principalmente pelo humor e leveza da pena do autor. E por referir-se ao espírito humano e às barreira que impomos a nós mesmos, ou que a descrença dos outros nos impõem, às nossas vanidades e veleidades que temos como a razão da existência, merece, contudo, um outro olhar. Recomendo-o a quem o consiga achar. Eu vou relê-lo, mesmo que em espanhol, para, talvez, depois voltar a falar nele.
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