27 de fevereiro de 2011

DEFENDOR, 2009 (Defendor)

Começando do fim, Defendor não é dos filmes: oh!, ganda filme!, mas dos: ohhhhh!, e não o ohhhhh! de desilusão, mas aquele de comoção, positiva, perceba-se.

Saiu Kick-Ass, saiu Defendor, por ambos terem “super”-heróis sem poder, não se pôde evitar comparações entre os dois, aliás, dizem que este segue a linha do primeiro; mas para mim, não há conclusão mais errónea, na medida em que Defendor e Kick-Ass são totalmente diferentes, além de que Defendor só demorou foi em chegar aos cinemas.

Kick-ass é uma comédia de acção, e Defendor é um drama cómico, e é esse o seu ponto fraco, pois não se decide nem por um nem por outro, o seu aspecto sombrio e meliante pediam que fosse mais drama, entretanto a peculiaridade do protagonista é por si cómico. Todavia, não é certo dizer que Defendor baseou-se no Kick-Ass tomando dele o herói sem poder e sem desenvolvidas capacidades físicas, porque já havia heróis assim muito antes no cinema (alguém se lembra de Blankman – e Other Guy –, embora este tivesse mais geringonças que Dados d’Os Goonies, ou de Zebraman?).

Largando isso e ficando no filme. Defendor é um super-herói caseiro, (não do tipo homem-aranha que costura o próprio uniforme, porém parecendo mais confeccionado por profissionais), que nem um uniforme colorido consegue arranjar, tendo mesmo que desenhar o seu símbolo, no peito, com fita-cola, e uma pintura na cara que lhe dá mais o aspecto do lémur de Madagáscar (no entanto, apresenta um bom look, remetendo ao Flash Jay Garrick em luto), e as suas armas são vespas, berlindes, e uma maça. Esse é o lado cómico, porque, na verdade, o filme é um hino à inocência, ou à ingenuidade (eu sei lá), uma apologia à honestidade e à certeza de fazer o bem, acreditando que uma pessoa pode mudar o mundo, se tiver a verdade e a justiça do seu lado. Eu bem gostava de acreditar nisso.


trailer


Se Defendor fosse representado no tempo dos gregos, seria uma espécie de tragicomédia; é Sansão e Dalila, sendo Sansão aqui careca, mas sem noção disso, e Dalila, apesar de prostituta não é bem traiçoeira. Um filme sobre a amizade, sobre os limites (só existem quando os aceitamos – consideração um tanto ingénua, em todo o caso), e sobre nós mesmo que não lutamos contra (contra o quê? não sei, a cada um o seu problema).

Um dos pontos fortes do filme acontece através de um locutor de rádio que recebe chamadas de ouvintes, através dele ouvimos como as pessoas se escondem dos problemas, ou arranjam bodes expiatórios para os existentes, ou do perigo que o sarcasmo tem para as pessoas quadradas. Vou citar o caso de um ouvinte que liga a reclamar que o locutor fica a falar sempre de armas, e que se ele não falasse tanto disso esse problema não iria existir. Esse é um dos problemas da nossa sociedade, julgam tapar o céu com a mão e não percebem que na verdade só tapam os próprios olhos.

Não sei se uma atitude a Defendor seria o ideal para curar os problemas da nossa sociedade, e não estou a falar de ataques físicos aos problemas, mas do acreditar da inocência e da honestidade, porque como diz uma linha do filme, embora como um ensinamento negativo: da próxima vez que entrar numa briga, leva uma arma!, pois a nossa sociedade não joga limpo e ser Defendor é entrar nu num ninho de vespas. De qualquer maneira, eu acredito em Defendor, embora também acredite que a maneira de lutar da maioria é levar flores ao cemitério para carpir quem tem a iniciativa.

Defendor é um bom filme, no seu primeiro minuto já nos fisga e estamos prontos para seguir a viagem, e o seu ponto mais é Woody Harrelson, a fazer o melhor papel que sabe fazer: o de desequilibrado (não que esteja a diminuir o homem, mas na verdade, em 90% dos filmes dele que vi é desequilibrado ou então incomum, e eu gosto dele). As situações, muitas vezes, apesar de caricatas, parecem genuínas. No entanto digo de novo, o mal do filme é não se decidir pela comédia ou pelo drama, levando-se a sério em determinadas alturas para se perder em burlesco noutros, mas mantendo-se sempre verosímil, apesar de certos lugares-comuns. 
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