19 de agosto de 2010

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. VIII

ESTÁ O MUNDO DOENTE OU É O MUNDO DOENTE?


Heal the world/ make a better place/ for you and for me/ and for entire human race…

Foi assim que Michael Jackson o disse. Outros também o disseram, ainda vai haver quem o diga. Infelizmente parecem todos eles aspirantes a médico, sabem que existe uma doença, se calhar até sabem qual é ela, e ainda sabem que o doente deve tratar-se, mas não sabem receitar o remédio.

Qualquer médico que se preze identifica primeiro os sintomas, define o tipo e isola as causas, e só dessa forma consegue receitar o antídoto correcto. Por isso para curar o mundo temos de saber qual é a causa.

O desequilíbrio existente no mundo humano é originado pela emoção ou pela razão? 

A resposta, é claro, a solução não vai apresentar para do mundo a cura. Não, seria positiva e sugestiva, porém não resolveria quase nada, porque a pergunta é para isolar o tipo e só assim poder criar a cura. 

Michael Jackson disse que a cura estaria no amor. O que talvez significasse que o problema está no lado racional, considerando que o amor é emoção pura (mas já vamos ver o amor). Porém, eu fui iludido pelo "Heal the World", com ajuda de um dicionário traduzi a letra toda para português para compreender o que queria a música dizer, tinha doze anos. Acreditei que as crianças podiam mudar o mundo se oferecessem flores aos soldados, mas quando comecei a ver crianças famintas a morrerem de fome na televisão por causa da guerra, percebi o quanto Michael me enganou. 

E não só ele, a própria Nações Unidas que também vende a mesma fórmula; manda soldados bem alimentados, a circular com materiais bélicos de elevado investimento monetário, para patrulhar campos de refugiados onde as pessoas caem de fome; um quadro pintado de antíteses. Preferia que não mandasse para lá soldados? Claro que não. Que mandasse soldados famintos? Também não. Que os soldados fossem sem armas? Ora, não! Então estou a criticar mesmo o quê? Provavelmente a quantidade de dinheiro que se gasta em acções de remediar, em vez de investi-la proactivamente. Parece um negócio a miséria humana. Nós recebemos como ajuda alimentar géneros estragados, tínhamos que secar as múmias dos peixes que enviaram e defumá-las para só assim poderem ser cozinhadas. Então o mundo seria um melhor lugar sem a Nações Unidas? Não sei dizer, nunca conheci o mundo sem ela, mas acho que o mundo seria isto que temos com ou sem ela.


[Era o ano 1999, tínhamos acabado de sair de uma guerra civil. A Nações Unidas distribuíra géneros alimentar aos refugiados e à população em zona de guerra também. Na altura, revoltava-me a porcaria que nos impingiram, principalmente porque via notícia sobre pessoas que doavam milhões para ajudas do tipo, pelo que sentia que pelo menos deviam mandar alimentos que prestassem e não daqueles que tinhas de escolher entre apanhar diarreia depois da sua ingestão ou ficar com fome. No entanto, admirava, e ainda admiro, os voluntários que deixam a paz da sua terra para irem para uma terra em guerra prestar serviços altruístas.]

Dito isto, põe-se a questão: o mundo é doente ou o mundo está doente?

Lendo a Bíblia, o mundo estava doente. Lendo Homero, o mundo estava doente. Lendo quem leu Tito Lívio, o mundo estava doente. Lendo Erasmus, o mundo estava doente. Lendo Voltaire, o mundo estava doente. Lendo Alexandre Dumas, o mundo estava doente. Lendo Hans Hellmut Kirst, o mundo estava doente. Lendo Calvino, o mundo está doente. Lendo Ray Bradburry, o mundo estará doente. Isso não quer dizer que o mundo não está mas é doente?

E a culpa é da emoção ou da razão? Se o homem se resumisse à Razão, como defendiam os iluministas, talvez tudo andasse nos eixos; e talvez se o homem não tivesse a razão, (acreditando que a razão cria motivos, vontades e propósitos) e fosse apenas emoção, cantada pelos românticos, as coisas estivessem bem. Porém, há quem defende que assim não haveria balanço. Mas, na verdade, parece-me que os problemas nascem do facto de o homem ser racional e emocional ao mesmo tempo. Nenhuma das duas é a doença do mundo, mas combinadas são. E cada uma é a cura da outra, se todo o mundo optasse por escolher apenas uma.

Mas então, se nos dessem a escolher, qual seria a mais certa escolha? E sem poder de escolha, e com o mundo doente, como vamos escapar?

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