25 de maio de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS - CAP. II


O SENSO DE JULGAR

Não julguem para não serem julgados, disse uma vez o mais sábio homem que alguma vez reportou a história, depois de Leonardo da Vinci.

Que validade tem as opiniões humanas sobre assuntos alheios? Que validade tinha a opinião dos missionários quando acharam que os africanos só seriam salvos se abandonassem os seus cultos para abraçarem os deles?

Todos pretendem ter a capacidade de julgar, todos se sentem com o senso da justiça – coisa que não existe – mas ninguém nota que sabe julgar tão bem como sabe voar.

O homem criou a justiça para poder julgar injustamente em tranquilidade. A constituição, os direitos humanos, a Convenção de Genebra, só servem no papel e, provavelmente daqui a uns bons pares de anos, serão usados como contos para adormecer crianças. Hamurabi já tinha tentado legislar, mas isso não evitou guerras e injustiças, os judeus idem, mas o mal não mudou de aspecto, Péricles, Platão, Aristóteles, muitos mais tentaram. Ainda há quem acredite na justiça?

Os homens com dedo na testa sabem que a justiça é uma fantasia sem a qual os homens sem dedo na testa – incluindo os mutilados – não conseguem viver. Hoje não há, quer dizer, há sim, mas em minoria, homens que crêem na justiça, mas, apesar disso, continuam a pedi-la. Quem entende o homem?

Os advogados, os juízes, os juristas, e toda essa cambada, só defendem o salário e a comissão, não se preocupam em estabelecer a justiça, mas ganhar as causas, e se não defendem os pobres, usando pesos e medidas diferenciadas, é porque ganha-se mais a não condenar ou a não deixar serem condenados os ricos. Se mesmo os grevistas pobres furam greves porque se sentem mais a ganhar com os patrões estando do lado deles do que apoiando os colegas que lutam por um salário mais justo para eles, inclusive, não se vai perceber o acto dos supostos defensores da justiça? Não confundir perceber com compreender.

Quando um político discursa gaba a implacabilidade do governo a fazer justiça, implacabilidade que não garante a imparcialidade, mas granjeia assim confiança, confiança que traz dinheiro, dinheiro que traz injustiça, injustiça que pede pela Justiça, pedido que cria sistemas, sistemas que geram políticos, políticos que falam de Justiça, Justiça que não existe.

Justiça! Bela patarata! A justiça, a que temos a disfarçar-se da verdadeira, é uma ladra, rouba a privacidade, rouba a individualidade, cega a Razão. Desde tempos imemoráveis que se fala dessa fantoche. Dizem até que é cega, ou, que tem olhos vendados, e que anda com uma balança na mão esquerda, para pesar os actos humanos, e uma espada na direita para os castigar. Cega!, nem admiro que a pesagem nunca esteja certa.

A figura que mais se ajusta à justiça é como desenhou um cartonista: uma velha cansada com uma balança a qual falta um prato, uma espada enferrujada e a venda levantada de um dos olhos. Ela, em todo o caso, se fosse verdadeira, está já reformada, se em tempos idos os homens agiam conforme a sua vontade, hoje é ela que se submete à vontade do homem, o homem do poder; primeiro, senhora, agora, escrava.

A justiça é um defeito com que o homem vive; criou-a há incontáveis eras e tanto a ela se acostumou que já pode viver com a sua ausência. Mas, mesmo na definição tosca da actual justiça, o que é ela?

Um juiz que condena o próprio filho é mais justo do que aquele que iliba o seu mesmo o sabendo culpado?

O juiz que condena um filho, se calhar é ético, mas é um insano, pelo menos para mim, porque mal por pior venha o menor. E sei que quem ama é insano, portanto, com um silogismo sofístico podíamos concluir que um juiz que condena o filho fá-lo porque o ama, e logo é justo, ou seja, quem ama é justo. Logo, a justiça encontra-se no amor. Mas, para derrubar o próprio raciocínio, simplesmente temos que pensar que maior insano é quem ama o que não existe, e logo se a justiça não existe o juiz não pode ser justo e não sendo justo, não ama o filho e nem podemos conectar ao amor a justiça.

Ou vejamos esta outra ilustração: um pai que sabe que o filho será a sua desgraça e mata-o para enganar o destino é mais injusto (ou louco) do que aquele que ajuda o seu para que este venha a matá-lo? Laio era cruel quando queria desfazer-se de Édipo? Ou era louco Príamo por ter condenado o bebé Paris? E Hitler… era louco?

Julgue quem saiba, eu copio o Pilatos.


18 de maio de 2009

PENSAMENTOS INEXACTOS


Por exemplo, quem sabe se Homero, quando escrevia Ilíada e Odisseia, acreditava que escrevia verdades sob a direcção de uma inspiração divina, como os autores da Bíblia, ou então que escrevia apenas um romance, quando Hesíodo afirmava que também as musas mentem? Quem sabe se foram os homens que depois acharam que Homero escrevera verdades? Ou as verdadeiras verdades por ele escritas é que depois foram mitificadas? Homero escreveu do seu cérebro ou transpôs para o papel o que os outros diziam?


A razão ou a emoção? A cabeça ou o coração? Devemos aceitar fervorosamente todas as verdades porque há como prova quase uma população mundial que as aceita, ou devemos pensar nelas e rejeitá-las se assim dever ser?, eis a questão.




SOMOS LIVRES OU PRISIONEIROS
A sociedade concede o desejo de ser especial, e somos simples seres seduzidos pelo sucesso social, e sem sequer sabermos forçosos somos sugados, para os sebosos centros devassos, de viscosos sonhos escassos, e vistosos saberes esparsos e conceitos sujos de sermos os sujeitos cujos preceitos serão o centro desta sociedade selvagem.
Conceituosamente, a essência de saber ser um ser saudável sempre será a séria preocupação assente no nosso senso. Tenso, penso que simplesmente é difícil ser o ser social que o nosso cérebro sempre sonha, e saber sentir o sabor que suaviza a seriedade de sermos servos submissos de sádicos conceitos sociais, de segregações raciais, de seleções faciais, separações em espécies físicas: em secos e obesos e altos e baixos, e fortes e fracos e formosos e feios e fiéis e falsos e fixe e fakes… mas no fundo fomos fodidos.
Separamo-nos em espécies, classificadas em sortes diversas, e sempre ansiosos singramos na diferença, e suspeitamos da semelhança. E somos assim separados do saber que concede na existência o sabor da saúde cerebral, independência e sossego social.
E eu sempre indeciso sobre o que é preciso, sabendo que o nosso consórcio solicita muito siso e pouco riso, e eu não friso a causa disso. Eu penso que se deve ser o que se é, não o que sociedade quer que se seja. Eu seria o que sou, não o que penso que eu sou, nem o que querem que seja, mas saberia separar as superfícies e balizas, e conhecer quais as minhas, e quais são proibidas, pois o sarilho com estrilho sempre surge quando se turge a circunscrição. quem são? Quem somos? Quem és? Quem sou?
Sou eu um ser feito, sou um ser perfeito, sim, eu sou perfeito… perfeitamente imperfeito! Sou feito de defeitos, de preceitos, de conceitos que enfeito a jeito de respeito em proveitos escorreitos, pois o leito do meu peito é atreito a preconceitos, que rejeito ou aceito, criados por mim, dados a mim, guardados aqui, compostos e dispostos em postos e repostos e proposto como supostos impostos, e aposto que é o que põe este gosto tosto no meu rosto. Serei um monstro?
Há em mim séries de assonâncias, de consonâncias, de dissonâncias, de ressonâncias, muitas ânsias, e sem fragrâncias, essa dança já me cansa. Com esperança na mudança, sem confiança, de forma mansa nesta balança, o querer ser avança, mas não se entrança nem alcança o que o ser é.
Mas é preciso fugir de pontas, descer, subir, ficar no meio, meditar, pois o mundo está mal, preparar novas formas de viver, computar o mal das sociedades, reparar o ideais entortados, separar o essencial dos acessórios, amparar AS vontades de utopias – quando promovem diferenças – disparar sonhos contra o mal, decidir com escolhas altruístas para presidir a uma boa vida para todos.
A vida reside no espectro. O que é o mundo senão um ícone de sombras? São só sombras que trespassam o nosso sonho e dá-nos a impressão de termos escapado da caverna de Platão.
Eu sei que muitos não me vão entender e vão querer julgar-me.

15 de maio de 2009

INTRODUÇÃO À PSEUDOFILOSOFIA DE PENSAMENTOS INEXACTOS


Li Erasmus tinha praí 16 ou 17 anos, impressionou-me sobremaneira, e posso até dizer que mudou a minha forma de ver as coisas. Nessa mesma época li Voltaire, começando por Cândido, e passando por inúmeros contos. 

Erasmus escreveu Elogio da Loucura, Voltaire, Elogio da Razão, eu pensava que os dois iam entrar em choque, e como Voltaire era muito por mim respeitado, gostava mesmo que me desse um outro ponto de vista, mas não é que um e outro, falando de coisas antagónicas, estavam em sintonia. É certo que Voltaire é posterior a Erasmus.

Ainda, nessa mesma época, continuando a minha busca por um ponto de vista antitético, e fascinado, confesso, por filósofos, filosofias e filosofices, fui parar ao Pensamentos de Pascal. Foi o cúmulo, tinham-me trabalhado bem a cabeça esses três, sem contar com outros que andava a ler nessa altura, e que depois vou identificar a medida que vou fazendo este blog.

O bulício mental que processava nos meus pobres miolos resolveu-se à caneta e papel, e vou aqui passar esses pensamentos. 

Quem já leu Erasmus vai perceber a sua influência na linha como apresentei estes pensamentos... também tenho Pitigrilli aos montes. E... mais, nessa altura, estava a ler um livro chamado Questão Coimbrã, pelo que em muitas partes senti muita vontade de escrever em rimas... e fi-lo, com bons e maus resultados.

O mais engraçado, para mim, pelo menos, é que descobri os textos que vou depois apresentar entre os meus montes de papéis, e ao relê-los, vi que apesar de serem ideias nascidas ou postas por autores diversos na mente de um puto, a minha forma de pensar não mudou assim muito, larguei umas certezas, aprendi outras, mas a maior diferença é: onde antes eu tinha ingenuidade hoje tenho... se calhar, cinismo.

Vou terminar aqui este post, começando por apresentar as reflexões do rapaz que eu era no próximo... só vos peço, não batam muito no ceguinho.

RAPIDINHAS

Vi Obama na televisão esta semana a confessar-se perante o povo, pelo menos a parte não besta e facilmente levada. O que ele fez foi simplismente afastar os papéis (que significa que alguém os escreveu para ele) e proferiu qualquer coisa como: vou-vos falar hoje sinceramente e de coração (significando que toda a camapanha e tudo o resto eram só balelas)... mas nós sabemos que esse suposto discurso de coração já tinha sido ensaiado antes... ou não sabemos?

Nas páginas de Destak, na rubrica carta de leitores, apareceu um tipo a dizer, referindo-se ao incidente de violência no bairro da Bela Vista que começou com um assalto e resultou na morte de um desgraçado abatido pela polícia, que a irmã ou vizinha deste não devia ter voz, que não se deve dar voz aos marginais... eu pergunto, e aos acéfalo?