13 de dezembro de 2008

EXPLORAÇÃO INFANTIL LEGALIZADA


Qual é o mais correcto?


Um filho de um vendedor cigano com 7 anos de idade a gritar na feira: olha DVDêêês, cinco euuuuurôôs!!!, ou outro com 7 meses de idade a fazer publicidade num programa de TV?

A escolha fica por vossa conta. Entretanto, a mim chateia-me a tanta hipocrisia que gira em torno de trabalho infantil. Defendem que as pessoas deviam começar a trabalhar quando atingissem a maioridade, mas apenas o fazem às crianças que andam na rua a pedir esmolas ou a ajudar os pais na venda; daquelas que aparecem nos programas da TV ou nos filmes, ou que lançam álbuns musicais não dizem nada. Por quê?

Eu sei que a Justiça, se é que existe, não é cega (se já fora, agora fez uma operação aos olhos), entretanto faz-me espécie que se condene os pais das crianças que mendigam na rua e não o façam aos das crianças que vemos nos cinemas. Em boa justiça, os pais cujas crianças estão na rua a apregoar dvds pirateados ou artigos roubados têm muito mais razão e motivo para porem os seus filhos nesse local e naquele trabalho, visto que necessitam de dinheiro para sobreviver, e possivelmente o que o filho vai ganhar até o fim do dia é que lhe vai garantir a sobrevivência do dia seguinte (pois temos mais empatia pelas crianças, e mais rápido compraremos um artigo que não precisamos de uma criança do que de um adulto). Já os pais ricos que metem os filhos a trabalhar no cinema ou na publicidade da TV não têm essa desculpa.

Passava um programa na SIC com uma miúda que fazia de assistente do apresentador, devia ter uns nove anos ela, o programa acho que se chamava dominó; na Disney Channel as crianças fazem o gosto dos telespectadores apresentando programas... mas ninguém se queixa, ninguém reclama da exploração infantil... mas ninguém pensou que isso é do pior tipo de exploração que existe. Por que metem lá crianças senão para ganhar audiência, para criar uma espécie de identificação do público infantil com os apresentador e para desta forma fazer mais dinheiro. Todos sabem que as crianças agora estão cada vez menos a quererem ser bombeiro, astronautas, polícias ou médicos, e a cada vez mais a serem músicos, jogadores ou actores famosos, o que se reflete muito na diminuição da capacidade intelectual que os professores têm acusado nos seus relatórios.

Eu não sou a favor da exploração infantil, mas vamos lá tentar ser equinames: se não vamos criticar os putos que estão a trabalhar para empresas multimilionárias para as tornar mais ricas não critiquemos o desgraçado pai que sofre por não ver poder ver o filho na televisão (e quando isso acontece é para ouvir os cretianalistas sociais a falar mal dele) e ainda o tem na rua a viver miseravelmente e a fazer o trabalho que ele não gosta.

Quem não sabe da segregação que se suporta na sociedade hodierna? E ainda não querem que os pais preparem os filhos para sobreviver da única forma que conhecem?

De dois males o menor! Eu também prefiro a situação da primeira foto do que desta última; todavia, quando se vai falar de exploração infantil não escolham a franja social desprotegida para apontar o dedo, mas apontem o dedo a vós mesmos, milionários que controlam empresas multinacionais e cadeias televisivas e etc., e verão que os pais não punham os filhos a serem explorados por vocês mesmos se tivessem forma de os livrarem disso. Portanto, basta de hipocrisia.

O TRABALHO DIGNIFICA?

Ainda era eu de leite quando começaram a ensinar-me que o trabalho dignifica o homem. Cresci a ouvir sempre isso que passei a acreditar. Também que saída tinha?, todo o mundo acreditava!!! Todavia, não sei por quê, mas não me preocupava muito com o trabalho, eu ainda era puto e não um homem.


Entretanto, hoje digo que essa frase foi criada simplesmente para meter a todos na forca, adornando-lhes a garganta com uma corda, mas sem que ninguém reclame. Vamos ver o que é trabalho!

O trabalho não é o esforço físico, não, que simples era se fosse assim.

O trabalho siginifica estares a matar-te para enriquecer outra pessoa em troca de um salário - proletariado. O trabalho é aceitares a tua condição de escravo e ainda ficares grato. O trabalho é o grande inimigo da família. E a família, meus amigos, é hipocritamente considerado o núcleo fulcral da sociedade, o órgão que sustenta as sociedades e estabiliza-as. Por isso, não compreendo como é que governos que, nos seus planos e discursos, sobrevalorizam muito a família são a favor do trabalho. Contraditório.

O trabalho define-se por um hipotético mínimo de oito horas diárias longe da família (sem contar com o tempo de ida e de vinda), o que gera pais e filhos que se cruzam só aos fins de semanas, maridos e mulheres que vão para a cama juntos só nas férias e nos feriados, porque os horários são incompatíveis, porque têm que ir dormir as duas para acordar as seis; o que se traduz em:
  • filhos com pais presentes constantemente ausentes que manifestam a sua revolta atacando os professores, onde vêem a débil substituição paterna (agressão deslocada);
  • jovens cada vez mais mal educados (não culpabilizo aqui as escolas e intituições de ensino, que como todos sabem não educam, apenas instruem) e cada vez mais drogados e sem norte;
  • estabilidade social cada vez mais fictícia;
  • divórcios em alta escala (esposos que não se vêm acabam por criar maiores laços com colegas de trabalho, sendo aliciante a traição e a ruptura do lar);
  • criminalidade em alta por causa da disparidade de classes sociais.
Eu sei que os pontos que fiz podiam ser acreditados ao sistema económico e não ao trabalho, mas o sistema económico é que dita o modo de trabalho e de recompensa. Eis a dialéctica marxista: abolir a classe, pois essa constante substituição não ajuda: saiu-se da parelha senhor/escravo para feudal/servo da glebe para empresário/empregado, e o que é que mudou? NADA!!!!

Precisamos é de um novo primeiro de Maio, qual o que aconteceu em Chicago não me lembro em que ano, que nos reduziu a pena a estas fingidas 8h/dia, para termos mais horas com a nossa família.

Já perguntaram por que razão o horário escolar é praticamente 8 horas, como os nossos trabalhos? Porque o governo sabe que tem que ocupar os nossos filhos com alguma coisa para que possamos nos dedicar de cabeça fria enquanto tornamos os nossos empregadores mais ricos e potentes. Preocupam-se connosco os governos?, com os nossos filhos?, niente, nothing, rien, nada. Estamos num sistema capitalista, amigos, o que importa são os bancos, não as pessoas.

Ninguém nos vai tirar da escravatura a não sermos nós. Enquanto não tomarmos consciência e passarmos a ensinar os nossos filhos que o trabalho não dignifica, mas ecraviza e a agirmos nesse sentido e não nos deixarmos ser escravizados (pelo menos com a pesada pena que nos impõem agora), tenho pena dos nossos bisnetos, pois continuarão no mesmo inferno que nós.

Há pessoas que trabalham voluntariamente e fazem coisas mais importantes que a maior parte do resto do mundo, mas como não ganham dinheiro ou não produzem lucros, são considerados preguiçosos e "indignos", aliás, a maior vergonha que temos hoje em dia é de nos anunciarmos como desempregados, porque passa a ideia de que somos uns mandriões. As mulheres, por exemplo, que cuidam das suas casa, filhos e família, podem passar o dia todo nisso, mas não são "trabalhadoras", logo, "indignas". E quem são os "dignos" que todo o mundo respeita? São os que ganham rios de dinheiro, mesmo que no processo atropelem toda a ética e condutas morais possíveis.

O que é necessário é valorizar os nossos esforços e reconhecer a nossa dignidade, e pararmos de aceitar que nos vendam patranhas.

28 de julho de 2008

WHITE PRIDE

Uma amiga mandou-me este texto por mail, e eu achei que merecia ser lido por outras pessoas e discutido. Reconheço algumas verdades nele apresentadas, razão por que estou a veiculá-lo, porém, digo que essas verdades, embora as sejam, estão condicionadas a determinados factores que, talvez noutro post, vou falar. Pois, há aqui uma questão sociológica profunda que não sei se tenho capacidade para destrinçar, mas enfim, não sou o dono da verdade...
Por enquanto, leiam o texto e reflictam.

Michael Richards, conhecido como Kramer da série televisiva Seinfeld, levantou um bom problema. O que se segue é o seu discurso de defesa em tribunal depois de ter feito alguns comentários raciais na sua peça de comédia. Ele levanta alguns pontos muito interessantes:



ORGULHO EM SER BRANCO


Quantas pessoas estão actualmente a prestar atenção a isto? Existem Afro-Americanos, Americanos Hispânicos, Americanos Asiáticos, Americanos Árabes, etc.
E depois há os apenas Americanos.
Vocês passam por mim na rua e mostram arrogância. Chamam-me 'White boy,' 'Cracker,' 'Honkey,' 'Whitey,' 'Caveman'... e está tudo bem. Mas quando eu vos chamo Nigger, Kike, Towel head, Sand-nigger, Camel Jockey, Beaner, Gook, ou Chink, vocês chamam-me racista. Quando vocês dizem que os Brancos cometem muita violência contra vocês, então por que razão os ghettos são os sítios mais perigosos para se viver?
Vocês têm o United Negro College Fund.
Vocês têm o Martin Luther King Day.
Vocês têm Black History Month.
Vocês têm o Cesar Chavez Day.
Vocês têm o Yom Hashoah.
Vocês têm o Ma'uled Al-Nabi.
Vocês têm o NAACP.
Vocês têm o BET [Black Entertainment Television] (tradução: Televisão de Entretenimento para pretos)
Se nós tivéssemos o WET [White Entertainment Television] seriamos racistas.
Se nós tivéssemos o Dia do Orgulho Branco, vocês chamar-nos-iam racistas. Se tivéssemos o mês da História Branca, éramos logo taxados de racistas.
Se tivéssemos alguma organização para ajudar apenas Brancos a andarem com a sua vida para frente, éramos logo racistas.
Existem actualmente a Hispanic Chamber of Commerce, a Black Chamber of Commerce e nós apenas temos a Chamber of Commerce.
Quem paga por isto?
Uma mulher Branca não pode ser a Miss Black American, mas qualquer mulher de outra cor pode ser a Miss America.
Se nós tivéssemos bolsas direccionadas apenas para estudantes Brancos, éramos logo chamados de racistas.
Existem por todos os EUA cerca de 60 colégios para Negros. Se nós tivéssemos colégios para Brancos seria considerado um colégio racista.
Os pretos têm marchas pela sua raça e pelos seus direitos civis, como a Million Man March. Se nós fizéssemos uma marcha pela nossa Raça e pelos nossos direitos seriamos logo apelidados de racistas.
Vocês têm orgulho em ser pretos, castanhos, amarelos ou laranja, e não têm medo de o demonstrar publicamente. Mas se nós dissermos que temos 'Orgulho Branco', vocês chamam-nos racistas.Vocês roubam-nos, fazem-nos carjack, disparam sobre nós. Mas, quando um oficial da policia Branco dispara contra um preto de um gang ou pára um traficante de droga preto que era um fora-da-lei e um perigo para a sociedade, vocês chamam-no racista.
Eu tenho orgulho. Mas vocês chamam-me racista.
Por que razão só os Brancos podem ser chamados de racistas?

Só para fechar o post digo: talvez não saibam, mas eu sou preto.

30 de abril de 2008

OS NOVE POLÍCIAS

O texto pertence a Mark I. Vuletic e foi catado do site www.ateus.net (link).


Anteriormente intitulado “Os Cinco Polícias” (2000), Vuletic atualizou este ensaio para incluir mais pontos de vista, agora nove ao todo.

Quando a Sr.ª K. foi lentamente violada e assassinada por um criminoso comum durante uma hora e cinqüenta e cinco minutos, à vista de nove polícias completamente armados que estavam fora de serviço e que ignoraram os gritos aterrorizados dela suplicando por ajuda e que se limitaram a olhar até que o ato foi levado ao seu fim horrível, dei por mim enfrentando uma crise pessoal. Os polícias tinham sido meus amigos pessoais muito próximos, mas agora vi a minha confiança neles completamente abalada. Felizmente, pude falar com eles depois e perguntei-lhes como puderam simplesmente ficar ali sem fazer nada, quando podiam ter facilmente salvo a Sr.ª K.

“Pensei em intervir”, disse o primeiro polícia, “mas ocorreu-me que obviamente era melhor para o assassino poder exercer o seu livre-arbítrio do que tê-lo restringido. Lamento profundamente as escolhas que ele fez, mas esse é o preço a pagar por se ter um mundo com agentes livres. Você preferiria que todas as pessoas do mundo fossem robôs? As ações do atacante com certeza não estavam sob o meu controle, portanto não posso ser responsabilizado pelas ações dele”.

“Bem”, disse o segundo polícia, “a minha motivação era um pouco diferente. Estava prestes a puxar a minha arma contra o assassino quando pensei: ‘Mas espere, não seria esta uma oportunidade perfeita para algum transeunte desarmado exercer heroísmo altruísta, caso passasse por ali? Se interviesse todas as vezes, como estava prestes a fazer, então ninguém poderia jamais exercer tal virtude. De fato, provavelmente ficariam todos muito mal habituados e centrados em si mesmos se impedisse todos os atos de violação e assassínio’. Foi por isso que não fiz nada. É pena que ninguém tenha aparecido para intervir heroicamente, mas esse é o preço a pagar por se ter um universo onde as pessoas podem mostrar virtude e maturidade. Você preferiria que o mundo fosse todo amor, paz e rosas?”

“Nem sequer considerei a hipótese de intervir”, disse o terceiro polícia. “Provavelmente tê-lo-ia feito se não tivesse tanta experiência da vida como um todo, pois a violação e o assassínio da Sr.ª K. parecem bastante horríveis quando considerados isoladamente. Mas quando você os coloca no contexto com o resto da vida, de fato acrescentam algo à beleza geral da imagem maior. Os gritos da Sr.ª K. eram como as notas discordantes que tornam uma excelente peça musical ainda melhor do que se todas as suas notas fossem perfeitas. De fato, quase não consegui evitar acenar com as minhas mãos à volta, imaginando que eu próprio estava a dirigir as deliciosas nuances da orquestra”.

“Quando cheguei ao local, de fato saquei o revólver e apontei-o mesmo à cabeça do violador”, confessou o quarto polícia, com um olhar muito culpado na face. “Estou profundamente envergonhado de ter feito isso. Sabes quão perto cheguei de destruir todo o bem do mundo? Quero dizer, todos sabemos que não pode haver qualquer bem sem mal. Felizmente, lembrei-me disso mesmo a tempo, e invadiu-me uma onda de náusea tão forte quando me apercebi do que quase tinha feito, que fiquei prostrado no chão. Safa, foi por pouco”.

“Olha, é realmente inútil tentar explicar-te os detalhes”, disse o quinto polícia, a quem tínhamos posto a alcunha ‘Crânio’ porque tinha um conhecimento enciclopédico de literalmente tudo e um QI que rebentava com a escala. “Há uma excelente razão pela qual não intervim, mas é demasiado complicada para tu perceberes, por isso nem sequer me vou dar ao trabalho de tentar explicar. No entanto, para que não haja qualquer mal-entendido, deixa-me sublinhar que ninguém podia ter se preocupado com a Sr.ª K. mais que eu, e que sou, de fato, muito boa pessoa. Isto resolve o assunto”.

“Teria defendido a Sr.ª K.”, disse o sexto polícia, “mas isso simplesmente não era exeqüível. Você está a ver, quero que toda gente acredite livremente que sou boa pessoa. Mas se interviesse constantemente quando ocorrem violações e assassínios, isso forneceria a todos a evidência de que precisam sobre a minha bondade, e desse modo forçá-los-iaa acreditar que sou bom. Consegue imaginar uma violação do livre-arbítrio mais diabólica que essa? Obviamente, foi melhor afastar-me e deixar a Sr.ª K. ser violada e assassinada. Agora todas as pessoas podem escolher livremente acreditar na minha bondade”.

“Vou contar-lhe um segredo”, disse o sétimo polícia. “Momentos depois de a Sr.ª K. ter falecido, fiz com que ela ressuscitasse e fosse transportada para uma ilha tropical onde está agora gozando bênçãos extraordinárias, e o sofrimento dela não passa de uma memória distante. Estou certo que você concordará que isso é uma compensação mais do que adequada para o sofrimento dela, portanto o fato de ter simplesmente ficado ali a olhar em vez de intervir não tem nada que ver com a minha bondade”.

O oitavo polícia surpreendeu-nos todos quando revelou um segredo surpreendente sobre a Sr.ª K. “Criei-a através de engenharia genética a partir do nada. Eu a fiz, portanto é minha propriedade, e posso fazer o que quiser com ela. Eu próprio podia violá-la e assassiná-la se estivesse inclinado a fazê-lo, e isso não teria sido pior do que você rasgar uma folha de papel que lhe pertence. Portanto, não se põe a questão de eu ser uma má pessoa por não ajudá-la”.

E, por fim, falou o nono polícia. “Contratei o oitavo polícia para criar a Sr.ª K. para mim, pois queria alguém que me amasse e adorasse. Mas quando abordei a Sr.ª K. sobre o assunto, ela afastou-se de mim, como se conseguisse encontrar significado e felicidade com outra pessoa qualquer! Por isso decidi que a coisa amorosa a se fazer seria vergar o espírito dela fazendo com que fosse violada e assassinada por um criminoso comum, para que ela, no seu extraordinário sofrimento, se virasse para mim, cumprindo assim o propósito para o qual ela tinha sido criada. Bem, estou feliz por dizer: missão cumprida! Alguns segundos antes de morrer, ela estava tão enlouquecida com o terror, a dor e o desespero que, de fato, convenceu-se de que me amava, pois sabia que só isso poderia pôr fim ao sofrimento. Nunca esquecerei o amor nos seus olhos quando me olhou uma última vez, suplicando por misericórdia, mesmo antes de o criminoso se inclinar e lhe cortar a garganta. Foi tão belo que ainda me traz lágrimas aos olhos. Agora só tenho de ir àquela ilha para que ela possa reclamar o prêmio por me ter servido”.

Nesta altura, tinha ficado claro para mim que qualquer dificuldade que pudesse ter tido em reconciliar a suposta bondade dos polícias com o seu comportamento naquele dia era infundada, e que qualquer pessoa que tomasse posição contra eles, só o podia fazer por gostar da vitória do mal sobre o bem. Afinal, qualquer pessoa que tenha experimentado a amizade deles do mesmo modo que experimentei sabe que são bons. A bondade deles até é manifestada na minha vida – eu estava num estado de confusão mental antes de os conhecer, mas agora todas as pessoas reparam na pessoa mudada que sou, muito mais bondoso e feliz, visivelmente possuído de uma calma interior. E encontrei tantas pessoas que se sentem exatamente da mesma maneira sobre os polícias – tantas pessoas que, como eu, conhecem em seus corações a verdade que outros tentam racionalizar com seu frio raciocínio e sua lógica estéril. Estou envergonhado de alguma vez ter duvidado que os nove polícias merecem a minha lealdade e amor.

Quando me preparava para ir embora, o primeiro polícia falou outra vez. “A propósito, também acho que deves saber que quando ficamos ali a ver a Sr.ª K. sendo violada e apunhalada vez após vez, nós estávamos a sofrer juntamente com ela, e sentimos exatamente a mesma dor que ela, ou talvez até mais”. E todos que estavam ali, incluindo eu, acenaram a cabeça concordando.



Pós-escrito

Líderes religiosos, não fiquem ofendidos. Fiz esta parábola de forma tão descarada quanto pude, mas o meu objetivo não é insultar ou blasfemar. Reparei que crentes religiosos são muitas vezes condicionados a aceitar soluções simplistas para o problema do sofrimento, e que é impossível abalar esse condicionamento através de uma análise fria. A tentação de oferecer a uma entidade um cheque em branco simplesmente porque alguém lhe colou o rótulo de “Deus” é esmagadora na nossa cultura teísta. Daí esta tentativa de enfatizar a questão através de um meio tão afastado da análise fria quanto possível. Mas, repito, é para enfatizar esta questão, não é para ferir ninguém. Não escrevi nada que não desejasse que me fosse dirigido quando eu próprio era um crente religioso.



Agradecimentos

Gostaria de agradecer a Michael S. Valle e Jeffery Jay Lowder por reverem versões anteriores deste artigo.

1 de abril de 2008

MORTAL KOMBAT: Teacher vs Student

Desde o início do mundo que conflitos têm pontuado a raça humana. Na versão criacionista, Deus fez a luz no escuro, Adão quis comer a fruta, Caim matou Abel… América invadiu Iraque… professora luta com aluna.

Na versão evolucionista, temos a teoria da evolução defendida por Lamarck, os animais têm que superar desafios e estar mais aptos para garantir a sobrevivência da espécie… luta… guerra… guerra… aluna luta com professora.
Vejam o vídeo:




Para quem não sabe isto aconteceu numa escola portuguesa… não há nada de vergonhoso nisso, acontecem coisas piores que isto nas escolas de todo o mundo, e até pode-se ficar orgulhoso porque não houve ninguém que sacasse de uma arma e desatasse a atirar sobre os colegas… Os órgãos de comunicação não têm falado de outra coisa senão da cena em questão… e quem leva com as culpas? É claro, a aluna e o cineasta.

De há um tempo para cá, tem havido muita solidariedade com os professores, porque querem plenos poderes sobre alunos mas a ministra não lhes quer dar isso, ou porque são agredidos pelos alunos (nos meus tempos de puto, quem levava com a palmatória na sala costumava ser eu e não o professor), pelo que criticam os pais de não saberem educar os filhos, mas ninguém procura saber se esses alunos-agressores não são filhos de professores-educadores.

Mas não é isso que está em questão. Está em questão a autoridade. A autoridade dos professores porque sentem-se inválidos por não poderem distribuir palmatoriadas conforme lhes der na telha; a autoridade do Governo porque todos lhes caem em cima como se fosse ele a induzir a aluna ao acto que vimos; a autoridade dos pais que ficaram envergonhados por causa do acto dos filhos; mas destas autoridades a única não questionada foi a da professora.

No entanto, qual é o direito que a professora tinha de tirar o telemóvel à força à aluna? A meu ver, nenhum.

Numa situação como essa, a professora (educadora) não devia ter essa atitude infantil de entrar em confronto físico com a sua aluna (educanda), mas ponderar e agir como uma adulta. Chegou-se a isto que vimos por quê? Porque a educadora sentiu-se desautorizada por a educanda não ter querido entregar o telemóvel, e quis mostrar à turma que quem mandava era ela. E a educanda por sua vez, se se submetesse pela força, perdia a sua autoridade perante os colegas. E, pelo amor de deus, a miúda tem praí dezasseis anos, quem sabe o tipo de mensagens que estava a trocar com o namorado ou fosse lá com quem fosse? Se elas fecham os quartos aos próprios pais, porque teria de ser a professora a invadir a sua intimidade. Alguém por acaso notou a cara de impotência que ela fez, ao ver que não tinha outra forma de reaver o seu pertence? Quer dizer, falando agora da infantilidade da professora, se a miúda lhe tivesse dado um estalo ela também retribuiria com a mesma fórmula?

Estranha-me que ninguém tenha questionado as acções da professora, e até agora só se falou dos alunos e da cumplicidade entre eles em relação a postura violenta da miúda. Além do mais, tenho impressão de que nessa mesma escola um aluno já foi assaltado, tendo sido esfaqueado, porém, não se usou esse exemplo para mostrar o quanto violento a escola era, e vão pegar nesse confronto estúpido para o fazer? Eu não vejo senão políticos atrás disto. Mas, voltemos à professora... O que eu faria na posição dela era pedir à aluna que abandonasse a sala e se ela não o fizesse, abandonava eu e iria instaurar um processo disciplinar… esta é uma forma; outras existem e nenhuma violenta.

Eu só acho que devia ser altura de parar de martirizar a pobre estudante… não defendo que ela tivesse tido um bom comportamento, mas eu já fui adolescente e sei quantas vezes tive que engolir o sapo para não me comportar de forma repreensiva.

Eu sou um estudante universitário e uso o telemóvel dentro da sala, em silêncio, para não perturbar os colegas. Não vejo mal nenhum no uso de telemóvel, desde que com moderação e de forma limpa. Mas isso não vem ao caso.

Os órgãos de comunicação como já sabemos tem o poder de marionetar o ponto de vista do povo e é o que têm feito concentrando-se apenas numa parte do problema… eu não acho que estejam a fazer isso sem dolo, mas isso é outro assunto.

Mas devia-se saber que conflitos fazem parte da raça humana e da nossa condição bestial, porém a forma de resolvê-lo é que mostra o nosso humanismo e o valor intelectual. E se tiver que culpar alguém nesta contenda, culpo a professora, porque devia ser superior à aluna e devia ter pelo menos uma unha de testa.

Já agora, o título não foi muito feliz.
Eu sei que a maioria tem opinião contrária à minha, e gostava que lessem aqui uma, que no entanto, não desvirtua o que eu aqui defendi: aqui

18 de março de 2008

BOICOTEMOS AS OLIMPÍADAS?

Não acredito em soluções fáceis para problemas complexos; nem mesmo na ficção, razão porque não gosto de Paulo Coelho, pois com conselhos inconsequentes e impraticáveis pretende que pode mudar o mundo, quando na verdade só muda a sua conta bancária (facto do qual não sou minimamente contra).

A analogia é fraca, mas o que queria com ela era dizer que a resolução dos problemas de Tibete não passa pelo boicote das olimpíadas, pelo menos do meu ponto de vista, o que sustento e fundamento.
Há anos, há muitos, muitos anos, um governador grego (já não me lembro quem, se alguém se lembrar, faça-me saber) instaurou os jogos olímpicos para unificar os povos gregos que andavam em guerra um com o outro. Os jogos eram feitos em honra dos deuses do Olimpo (o que justifica o nome), particularmente, Zeus.

Sabemos que hoje, tudo, por mais pura ideia que tenha sido no início, é usado como máquina de dinheiro ou desculpa para a notoriedade, razão por que os motivos dos jogos olímpicos tornaram-se pervertidos passando a ser uma fonte de rendimento capital, mais do que o conceito unificador dos povos.

A China investiu muito dinheiro e esforço para realizar os jogos, e coube-lhe essa tarefa há sete anos (se não estou em erro), e é certo que se candidatou a ela porque esperava tirar dividendos. Porém, que eu saiba, há mais de 50 anos que a China está no Tibete, mas isso não impediu que há 7 anos lhe tivessem dado o aval para dirigir os jogos; por que razão só agora se levantou a turba para justificar o boicote com os problemas de Tibete? Não vejo outra resposta senão esta: América.

Quero deixar bem claro que não sou a favor de qualquer invasão de um povo pelo outro, aliás eu sou filho de um povo (ex)cravizado e sei como isso funciona e o mal que causa; sou a favor da paz, mas não sou de expor o mal de uns para beneficiar outrem, principalmente quando esse é farinha do mesmo saco.

Está tudo politizado, Dalai Lama está a macular a sua figura fazendo uma espécie de jogo duplo, enquanto banca o Ghandi, os monges vão criando problemas na rua que requeiram intervenção policial; constantemente aparece a dizer que quer dialogar com a China como se esta fosse adversa ao diálogo. Talvez esteja a avaliar mal, mas não vejo senão a hipocrisia política no Dalai Lama desde quando começou a canalizar atenção para ser o Nobel da Paz, fazendo viagens e espalhando santidade, sempre, digo agora eu, com os americanos atrás das cortinas a puxar os cordéis e os cordelinhos.

Mas não tinha vindo aqui para falar do Dalai… A verdade é que a China está a tornar-se um império económico com um sistema social diferente dos americanos, e está a ser uma pedra nos sapatos deste. A América e a UE temem esta ascensão. Actualmente não há produto que não tenha made in China, não há europeu ou americano que não use um made in China, a china está a entrar no mundo e a assustar os americanos. Porém, a UE, menos gananciosa que a primeira, e mais ponderante, não está a favor do boicote.
O boicote dos jogos olímpicos não seria mais nada senão um golpe que desestabilizaria a economia chinesa por algum tempo… mas tempo é dinheiro… aliás, de uma forma ou outra já desestabilizou, porque muitos que antes tinham pensado em ir aos jogos assistir já não irão, porque figuras públicas, como Steven Spielberg (cujo arte admiro, mas esta atitude, arghhh, abomino), são a favor do boicote.

No entanto, pergunto: a América não está no Iraque?, não está no Afeganistão?, não vendem armas que alimentam as guerras no mundo? Por que raio ninguém se lembrou de boicotar os filmes americanos?

Acho que sei a resposta, porque os filmes são para nos distrair e não vamos atentar contra a nossa distracção, pois é-nos essencial. Agora só não entendo porque razão, se não devemos por em causa a nossa diversão, deveremos destruir os sonhos de outras pessoas. Não estou a falar aqui de chineses, mas alguns atletas passaram a vida inteira a prepararem-se para esta competição, podendo ser o seu maior sonho. Já se pensou na frustração deles? Não quero dizer que o povo invadido não se sinta frustrado também e que não devemos pensar nele.

Entretanto, não olhemos para o lado político e económico dos jogos, pensemos antes no espírito da olimpíada e acreditemos que ainda permanece imaculado, e por causa disso e dos atletas, perguntemos: por quê se deve boicotar os jogos olímpicos? Aliás, se a América é o justiceiro do mundo, se invadiu Iraque para fazer cumprir a justiça, por que não invade antes a China?

11 de março de 2008

ESCLARECENDO A BÍBLIA



Encontrei o texto que se segue num site chamado www.ateus.net.


Laura Schlessinger é uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.

Recentemente [bom, não sei quão recente] ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância. O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano e também disponibilizada na Internet.

“Cara Dra. Laura

Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso. Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que
Levíticos 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate. Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como segui-las:

1. Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

2. Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em
Êxodo 21:7. Na época actual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

3. Eu sei que não é permitido ter contacto com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (
Levíticos 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

4.
Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

5. Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados.
Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo mesmo?

6. Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (
Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

7.
Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

8. A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

9. Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (
Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco).

10. Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19 porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimónia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável. Seu discípulo e fã ardoroso.”

4 de março de 2008

ZEITGEIST O FILME

Zeitgeist o Filme, é assim que se chama o vídeo, e está a fazer furor na net.


É um vídeo grátis, é para ser mesmo pirateado. Quando fiz o download do torrent, pensei que ia apanhar um filme de comédia ou algo qualquer do género, porque não conhecia o termo zeitgeist, e a única coisa que me lembrou foi polstergeist. Entretanto quando comecei a ver o filme, não consegui parar, vi e revi.


O filme está dividido em três partes. A primeira fala da falsidade da religião cristã; a segunda é uma teoria de conspiração sobre o ataque de 11 de Setembro; e a última, quem está por detrás do ataque e como pretendem instaurar um governo global.


Já tinha entrado em contacto com os temas expostos no filme, por exemplo, o mito à volta de Cristo, a teoria da conspiração de 11/9, as guerras americanas e o comércio americano de materiais bélicos que estão por detrás das guerras no mundo; todavia, fui apanhado pelo filme como se nunca houvesse sequer reflectido sobre esses aspectos.

A parte que fala da não existência de Cristo, para complementar, deixo aqui o link do livro de La Sagesse, Jesus Cristo Nunca Existiu, uma leitura que me abriu os olhos e me ajudou a cimentar e relacionar vários conhecimentos que tinha sobre as diversas mitologias dos diversos povos (sempre me fascinaram os mitos).


A parte da teoria da conspiração, eu conheci por esta música de Ikonoklasta (Efeméride do Sékulo - Pt II), um dos poucos rappers tugas com cérebro.


Para já, no filme falou-se da invasão da Venezuela pelos americanos... e quem lê as notícias sabe que isso está prestes a acontecer. Pá, não posso fazer aqui nem introdução, nem síntese, nem nada, vejam vocês o filme.


O filme podem ver neste site (ver filme) ou então fazer o download neste outro (download do filme). Mas se por acaso fizerem o download e o vosso jukebox não conseguir ler o ficheiro, façam o download deste pacote de codecs e tudo correrá bem.


Gostava que vissem o filme e pudéssemos aqui discuti-lo aqui, entretanto, aconselho sempre a verem antes o vídeo abaixo.






22 de fevereiro de 2008

O MUNDO E A TV - DISSEMINANDO A INTOLERÂNCIA



Este vai ser a primeira parte de uma série de reflexões de treta.

Fazendo o zapping encalhei na SIC Mulher (oh!, não, não me entendam mal, não sou gay, e como isto aqui é um sítio público e para não quebrar a convenção e passar por intolerante, vou carimbar que não tenho nada contra eles, apesar de não ter gostado do único que conheci, pois fazia-se a mim).

Como estava antes a dizer, encalhei-me ali, porque um homem (bem parecido, por sinal) estava a contar como a sua mãe o apoiara quando descobriu que era gay; fiquei interessado, é sempre bom ver alguém com coragem para assumir a sua posição; e quando vemos como são tratados por serem apenas diferentes sobe-nos um nó para a garganta e um aperto no estômago tão forte que nos deixa a cara a arder. Aliás, eu pensava que era isso que acontecia, até ver a apresentadora (acho que é Tyra) a despedir o homem e depois a chamar uma mulher que não estava de acordo comigo.

Ela chamava-se Ashley qualquer coisa, era advogada e mãe de onze filhos, praticava a religião baptista e tinha um imenso ódio contra os gays, porque, segundo ela, todos eles irão para o Inferno, porque Deus os odeia (isto dá muito pano pra manga).

Primeiro admirei também a coragem da mulher: entrar numa audiência onde se tinha acabado de bater palmas fortes em solidariedade aos gays, e sustentar à viva voz que odiava gays, era algo que chamasse colhões ao assunto. Era provocação máxima, mas era uma mostra de coragem e afirmação. Ela estava acompanhada de duas meninas, suas filhas, e todas elas partilhavam do mesmo credo: ódio aos homossexuais. A justificação: Deus odeia isso.

Esqueci-me de dizer que a Tyra anunciou essas mulheres como semeadoras de ódio, violência e intolerância e durante a entrevista, não deixou de chamar-lhes isso nas suas caras; pensam que elas se zangaram? Não, continuaram ali, impávidas, forçando um sorriso amarelo e melado cada vez que a câmara lhes focava, e não alteravam a postura por minuto algum. Houve um momento em que a Tyra começou a gritar com a mãe: não discutas comigo no meu programa. Eu estava a sentir pena, admiração e nojo dessas mulheres, mas pela forma com a Tyra as atacava, e quando falou isso, e quando depois pôs os figurantes a atacar essas três diabas, enjoei. 

As mulheres queriam aparecer na TV, a Tyra queria subir a audiência, o sacana do gay tinha um programa de auto-ajuda e era músico, estava apenas a publicitar-se. Aquilo tudo começou a feder de hipocrisia; e quando se chamou um ex-skinhead para descascar as três mulheres, passei dos carretos… mas não pensem que mudei de canal. Ainda vi uma menina de 14 anos a dizer que é uma puta porque fodeu já 14 rapazes…

Não posso transcrever aqui os diálogos, mas posso dizer que naquele estúdio não havia uma única pessoa que não fosse intolerante; e eu também me senti intolerante, por momento quis que um kamikaze entrasse de rompante no estúdio. 

Estou com preguiça de pensar e sei que o texto está superficial, mas vou resumir, a raça humana é a pior que existe neste planeta, perdoem-me o cliché. 

O MITO DA FÉNIX

Os egípcios conheciam boinu, ave que em certas auroras levantava-se imponente em direcção ao disco áureo do Sol. Era boinu anunciante de boas notícias. Quando ela aparecia, sabiam logo que haveria colheitas férteis e que as crianças que fossem geradas nessa altura receberiam uma bênção especial, tornar-se-iam excepcionais.

Boinu fazia conexão entre as duas entidades mais respeitadas pelos egípcios, o Nilo e o Sol, o deus Rá; levantava-se de um e voava em direcção ao outro. Por essa razão, boinu acabou por ser identificado com o Sol.
Porém, foram os gregos que chamaram à ave de Fénix (vermelho) - o passáro do fogo, e lhe atribuíram as características que agora a patenteiam. Fénix, a ave que ao morrer se deixa consumir pelo Sol, para renascer das suas cinzas. O primeiro trabalho da Fénix consistia em levar as cinzas da sua antecedente ao Heliópolis (etimologicamente, cidade de Sol, geograficamente, Cairo).




O que me faz evocar o mito é ter encontrado nele certas similaridades com o ciclo da vida do homem. Qualquer um que tenha alguma vez entrado em contacto com a mitologia grega, sabe que nela pode encontrar infinitas metáforas sobre qualquer assunto da vida, só tem que explorá-la; e é o que vou tentar fazer aqui.

O que me chamou atenção no mito da Fénix, é ela ter de levar as cinzas do antecedente, ou progenitor, para Heliópolis. Foi a partir desse ponto que comecei a fazer a minha leitura, e minha interpretação varia conforme os ângulos pelos quais observei. Vou apresentar uma das leituras, e vou chamá-la:


As Sandálias do Pai

A Fénix renascida leva as cinzas do pai para Heliópolis (acho que é escusado apresentar analogias entre o Hélio-Sol e o sucesso-Sol – ainda mais que agora quando somos realizados, somos astros). Pois bem, nós fazemos igual à Fénix.

Pode ser que a primeira coisa que passe pela cabeça da nova Fénix seja: um mundo lindo para explorar, e tenho de levar as cinzas deste sacana para o outro lado do planeta. Ou seja, a primeira coisa que lhe aparece logo á sua chegada ao mundo é um dilema: fazer a vontade do pai em vez de a sua própria. Talvez até pergunte: por que razão o gajo não foi morrer logo no Heliópolis e me poupou ao trabalho? Mas não importa a rebelião que lhe afecte o espírito nesse momento, pois quando chegar a sua hora, ele não se vai lembrar que deve poupar ao trabalho a Fénix que lhe vai suceder, não se vai dar ao incómodo de voar até ao Heliópolis para dar o seu último suspiro. Não! Procurará o sítio mais agradável da sua vida, para aí morrer, mesmo que isso signifique voar até ao Plutão.

Os pais enquanto filhos, revoltam-se muitas vezes, não querem seguir os pais deles; mas quando chega a sua vez, querem que os filhos calcem as sandálias deles. Já li livros em que as pessoas dizem: eu sou a sexta geração de militares na minha geração. Isso diz que ele tem calçado as sandálias do pai. Ou seja, são as fénix renascidas, continuaram a tradição.

Ouroboros, representa o retorno perpétuo
e o seu conceito é identificável ao da Fénix



Os pais banqueiros querem que o filho faça o curso de gestão; os pais com clínicas querem que os filhos sejam médicos; pais advogados querem filhos advogados; pais artistas querem filhos iguais; mas atenção que falo aqui de pais que triunfaram. Pois, os que não triunfaram querem que os filhos sigam outros caminhos, enquanto que esses desejam que nos aventuremos pela mesma trilha, porque, pelo menos, julgam eles, estão certos que triunfaremos também nela. Nós falamos de controlo; falamos de pais que não querem que os filhos façam os caminhos deles, mas que lhe sigam os passos. Mas não é mais cómodo assim: levar as cinzas dos nossos pais? Quem faz o seu próprio caminho sabe como é isso é difícil, é igual a chegar numa floresta cerrada para abrir uma estrada, tendo como ferramenta de trabalho apenas uma corta-unhas.

Porque sei que quando o texto é muito as pessoas não lêem, vou publicar ainda apenas esta parte. Posteriormente, desenvolvo as minhas reflexões sobre As Sandálias do Pai, antes de passar para outras paragens, mas sempre seguindo o Mito da Fénix.

14 de fevereiro de 2008

E O AMOR É...

O Amor tem várias definições conforme os seus definidores.

Entretanto, seja como for, todas essas definições têm algo em comum: o amor é sempre alguma coisa. Ninguém se lembra que o amor podia ser apenas amor, e não o transvertir em definições duvidosas que dependem de uma determinada época para serem aceites. E eu como não sou diferente dos demais, também defino o amor à minha maneira.

Após um longo tempo de análise e passeando por diversas perspectivas do amor, cheguei á conclusão de que o amor é meramente uma desculpa para as pessoas terem sexo de consciência tranquila. Devo explicar? Não tem problema, cá vai ela.

Quando se pergunta por estas bandas o que é amor, duvido que a pergunta se refira ao tipo de amor que os irmãos têm entre si, que os pais têm para os filhos (ágape dos gregos), que os amigos têm (aliás, isso até é chamado de amizade, os gregos: filia), porém do amor erótico (eros, dos gregos – parece que eles são mais inteligentes e sabem diferenciar melhor estes sentimentos), ou melhor, para desanuviar o termo desse tom pesado: o amor entre homem e mulher.

Agora, se estivermos de acordo quanto ao que disse lá em cima, vamos pensar: qual é a manifestação suprema do amor erótico? Quando os namorados pedem prova de amor, o que é que pedem? Nos filmes, quando duas pessoas estão apaixonadas ou se amam como é que o mostram? Acho a resposta óbvia: fazem sexo, e para não se sentirem sujas ou imorais, preferem o termo: fazer amor. 


Mas todos sabemos que a fisiologia dos dois actos é o mesmo, e mesmo quando um dos dois pensa que está a fazer amor (com floreados) outro pode pensar que está a fazer sexo (seco e directo). Agora, falando do sexo; com quem é que as meninas sonham perder a virgindade? Com a pessoa que amam, a pessoa que vai ficar ao seu lado a vida inteira (eh, eis outra característica do amor ou da lavagem cerebral social).


Agora, basta disso tudo. Pensando na nossa condição de animal e tendo o sexo como um acto que nos é natural (embora muitos não o considerem uma necessidade homeostática porque, dizem, ninguém morre de não fazer sexo), e vindo no tempo até aparecerem as religiões que proíbem relações sexuais e fazem do sexo um acto impróprio e imundo a não ser quando praticado com o cônjuge (posteriormente – porque não se pôde domar o animal – com a pessoa que se ama). 

Todos sabemos como os romanos e os gregos glorificavam o nu, e como o nu agora é visto de través; como os templos indianos eram ornamentados com figuras kamusútricas sem que isso ofendesse a ninguém (aliás, hoje fazem as delícias dos turistas); em suma, depois do cristianismo o sexo tornou-se mau, muito mais mau do que sempre foi. 


Fomos educados a vê-lo assim e não podemos fazer nada contra isso. Mas também nos foi ensinado que sexo é puro e divino quando é praticado com amor… e é disso que estou a tentar falar há muito tempo. 


Quando vemos num filme ou numa leitura duas pessoa a terem sexo, valorizámos mais isso quando a história diz que existe amor entre elas, aliás, até somos mais tolerantes com os homossexuais quando dizem que se amam. Aliás, quando queremos ir para a cama com uma pessoa, não é dizendo-lhe que a amamos o caminho mais rápido?

10 de fevereiro de 2008

SENTIDO DA VIDA

Ao vender um livro uma vez, a pessoa disse que só o comprava se eu explicasse o sentido da vida. Que pergunta, hem! Era um professor universitário e fez a pergunta em tom sério, o que me impediu de resumir a resposta nisto: a vida é uma merda!

O engraçado é que participo num grupo de mandriões do Hi5 e nesse grupo alguém se lembrou de fazer esta mesma pergunta. Escolhi uma resposta curta, sem justificações, sem nada. Mas vou transcrever aqui o que disse ao professor sobre o sentido da vida para que ele me comprasse o livro:



Que posso eu dizer da vida, de concreto, quando ela para mim já foi o paraíso, o purgatório e o inferno? Acho que nem mesmo Caronte, que passa a eternidade entre as margens de Styx saberia dizer o que é a vida.
Entretanto, tendo em conta que não se espera nestas linhas verdades absolutas, não vejo inconveniência em dizer as minhas.



Pegando na teoria dos opostos, o eterno dualismo, para dissecar o assunto, dividiríamos a vida em duas metades… ou mesmo, podíamos mantê-la una, mas ubíqua, representando em dois cenários: um trágico, outro cómico; e resumíamos tudo em dois planos: momentos de riso, momentos de choro, horas de alegria, horas de tristeza; tempo de dançar, tempo de carpir; e podíamos dizer: eis cá a vida tal como é.

Todavia, a vida não se limita apenas á nossa, mas também a dos que nos rodeiam, e ela só é vida comungando com essa, formando assim uma massa homogénea de diferenças. Não somos ilhas, mas subsistemas de um sistema. Logo, para definir a vida há que considerar a de todos os outros, e nesse sentido, acho legítimo dizer o que tantos outros já disseram: a vida não é nem comédia, nem tragédia… ela é uma farsa.

Sendo assim, como deve ser vivida? Rindo-se dela, no entanto. Eu explico:

Sentimo-nos bem quando assistimos a uma comédia (vida de outros) ou a uma tragédia; já louvámos Sófocles, Eurípedes, Shakeaspeare, adorámos Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Judas o Obscuro; dizemos: este sofrimento alheio foi bem descrito, até nos toca a nós. Manifesta-se assim o nosso lado sádico.

São personagens fictícias
, eis a desculpa. Pois são, quem disse que não! Mas que de nós já não se riu um amigo que escorregou antes de tentar ajudá-lo (sei que há outros exemplos melhores, mas a minha inspiração lá não chega). Para não tergiversar mais, resumo: ríamo-nos de nós próprios, antes que outros o façam… e mesmo quando o fazem. Assim será mais fácil vivermos com nós mesmo e com eles.

Qual o sentido da vida? O riso; a loucura.